Amsterdam, três vezes te amo!

A situação é a seguinte: você está andando em uma rua, num território que não é o seu, mas no qual você já esteve há muito tempo. Aí, num rompante de memória, aposta consigo mesmo: “Eu já passei aqui. Na próxima esquina tem uma loja que vende tortas incríveis.”. Aí você anda uns tantos metros e tem mesmo! E olhando praquele lugar, que por alguma razão foi marcante – e no qual você passou quem sabe muito rapidamente e só uma vez – dá uma vontade de falar: “Ei, você ainda tá por aqui?! Que bom! Nossa, tá um pouco diferente, né? Mas eu também estou. Pois é, voltei!”.

Você já teve essa sensação? Pois, pra mim, topar inesperadamente com um canto querido e conhecido é um dos grandes prazeres que tenho quando viajo. E isso aconteceu várias vezes agora em Amsterdam, cidade que tive a sorte de voltar pela terceira vez.

Amsterdam

Selfie (2008), bike (2009) e pernocas tomando sol no Westerpark (2014). Três verões em Amsterdam 😉

E é aqui que eu queria contar o quanto estou e sempre estive enamorada por essa cidade.

Quando vou pra lá, o ritual é sempre o mesmo. Piso no mega Aeroporto de Schipol e vou até a plataforma que me leva à estação Amsterdam Centraal. Nessa hora, quando a porta fecha e o trem começa a andar, meu coração acelera, os olhos brilham. Sintoma de paixão mesmo. Acho que é porque se eu criasse um lugar perfeito pra viver, seria muito parecido com Amsterdam. Morro de vontade de dar Ctrl+C/ Ctrl+V nas pessoas que amo e colocá-las todas ali. Te juro, seríamos bem felizes. Eis alguns dos porquês:

Amsterdam é artsy, cool, hype, só que despretensiosamente. Acho inclusive que Amsterdam, se fosse uma pessoa, nunca usaria esses adjetivos (já pretensiosos) pra se descrever.

Fachada e impresso de bicis da Typique/ Crédito: Typique

Fachada e impresso de bicis da Typique/ Crédito: Typique

Na semana que estive lá, vários ateliers abriram suas portas. Alguns eram casas e quintais nos quais você era convidado a tomar um café e ver cerâmicas, esculturas, jóias. Outros eram lojas  como a Typique, do René, que me contou todo o processo de impressão artesanal em papel que ele faz. É o tipo de coisa que eu amo, dá uma olhada aqui….

Crédito: Eye Film Institute

Crédito: Eye Film Institute

…E aí, pegando a balsa ali pertinho e atravessando o rio, já dá pra visitar o imponente Eye Film Institute, com sua arquitetura moderna, exposições sobre cinema, tudo com uma pegada de arte digital, uma sala de projeção e um restaurante ótimos…

…E no tópico museus, ainda tem o Rijskmuseum, com seu acervo mundialmente famoso que, entre tantas outras coisas, tem obras-primas de Frans Hals, Jacob van Ruysdael, Johannes Vermeer e Rembrandt…

…. e quase vizinho tem o Van Gogh, que é imperdível especialmente às sextas feiras, quando fica aberto até mais tarde e sempre tem um evento bacana a noite….

Acervo da Foam Photography Museum/ Crédito: Foam

Acervo Foam Photography Museum/ Crédito: Foam

… Ah, sem falar na Foam Gallery e o Felix & Foam, lugares que morria de vontade de ir faz tempo. No primeiro, tem um acervo fotográfico super interessante de artistas contemporâneos. Os curadores tão colados na vanguarda, então se você curte foto, tem que ir.  E o segundo é um espaço de eventos de arte e cultura, que sempre traz mostras bacanas…

Uma seleção de botas incríveis na Marbles!/ Crédito: Marbles (foto 1 e 2)

Uma seleção de botas incríveis na Marbles!/ Crédito: Marbles (fotos 1 e 2)

… E tem também a Haarlemmerdijk , uma rua que eu não podia deixar de contar aqui. Ficava ao lado da casa da adorável Margô, fotógrafa brasileira que vive lá há muitos anos e que me hospedou via AirBnB. Essa rua tem um comércio de arte, comida, decoração, moda e coffe shops que é a cara da cidade, como por exemplo o brechó Marbles, com um garimpo fantástico de peças vintage ….

Marqt <3

Crédito: Marqt

….Ainda no mesmo endereço, vale super ir aos mercados de orgânicos e produtos que seguem o modelo de comércio justo e sustentável, como o Marqt – meu preferido! Com mil opções gostosas, fresquinhas (e um design cativante das embalagens à disposição dos produtos), a hora de ir até lá  era uma das mais esperadas do meu dia. E só aceita cartão. Porque, vamos pensar, pra quê mesmo dinheiro em papel, né?…

Westerpark/ Crédito: Amsterdam Info

Westerpark/ Crédito: Amsterdam Info

….E ai no final dessa rua tem o Westerpark. Talvez você já tenha ouvido falar no famoso Vondelpark, que fica perto da Praça dos Museus, mas o Westerpark é a chance de experimentar um rolê localista. Sai um raio de sol e os holandeses já estão lagartixando sobre cangas, com cestas de piquenique, preparando alguma comida na grelha, jogando bola, lendo um livro. E ainda tem um galpão, o Westergasfabriek, com hubs criativos, exposições de arte, filmes, bares e uma porção de gente interessante. Essa dica é quente! rs …

Sol, bike & barco <3

Sol, bike & barco ❤

… Mas pra não me alongar tanto aqui (o que, sem dúvida, estou muito tentada a fazer), tem a cultura da bike totalmente estabelecida ❤ Bikes lindas, com cestos e acessórios práticos e meninas andando de saia sem serem importunadas, porque, claro, o respeito à liberdade individual é outra bandeira de Amsterdam. E é nesse ponto que eu abraço a cidade totalmente!

Porque muito, mas MUITO MAIS, do que um lugar pra você passar dois dias, fumar um baseado e comprar meia dúzia de souvenirs do Bob Marley, Amsterdam é um lugar que te deixa genuinamente livre pra bancar suas escolhas de vida, sejam elas banais ou excêntricas. É um lugar que pode ser tão acolhedor quanto uma cidade pequena e, ao mesmo tempo, culturalmente efervescente como uma cidade grande. E isso é muito do que eu amo no mundo e do que eu amaria viver todos os dias.

PS: Claro, esse é o olhar de uma apaixonada que foi pra lá em primaveras e verões ensolarados. E paixão dá aquela distorcida, de leve. Mas o que importa é que é paixão sem ciúme. Daquelas com muita vontade de encontrar outras pessoas que me contem aquilo que gostaram na cidade. Se for o seu caso, deixa um comentário aqui?

E até o próximo post, que pode demorar uma semana ou um ano, mas a verdade é que eu sempre volto pra este blog!

 

Um adjetivo para Cabo Polônio – relatos de um verão uruguaio

É julho, pleno inverno, e vou escrever sobre meu verão de 2012 pra 2013. Sei que parece estranho, mas esse mix de frio e calor tem tudo a ver com meu  Reveillon em Cabo Polônio.

Cabo Polônio

A primeira vez que ouvi falar da reserva natural de Cabo Polônio foi em 2005. Desde então, quem voltava de lá trazia adjetivos como “inóspito”,  “diferente”, “rústico”, “imperdível”, “mágico”, seguido de um unânime:  “não dá pra explicar, tem que ir”. E, de fato, avaliando pelo Google Images, as fotos de dunas e leões marinhos, não me diziam muito.

Procurei saber o básico: não tinha ruas, água encanada ou luz elétrica. Carros eram raros, só os veículos 4×4 de alguns moradores eram permitidos. Era o tipo do lugar que a natureza se impunha. Com isso em mente, comprei a passagem, fiz as malas e peguei o caminho do aeroporto. Fui buscar o meu adjetivo pra Cabo Polônio.

Pra chegar lá, peguei um vôo São Paulo-Montevidéu pela TAM por 900 reais com taxas (bem ok pra alta temporada). Aproveitei e passei duas noites na capital uruguaia. Sobre Montevidéu, algumas percepções: muitos velhinhos, calçadão super simpático por toda a orla, vinhos ótimos entre 150 e 230 pesos (algo entre 16 e 24 reais), empanadas excelentes no mercado municipal. Ah, e todos (todos mesmo) carregam seus respectivos mates em térmicas ou cuias o dia inteiro, não importa quão desconfortável isso possa parecer.

Cães aproveitam o verão em Montevidéu. Ao fundo, calçadão que passa por toda a orla da cidade.

Cães aproveitam o verão em Montevidéu. Ao fundo, pessoas caminham no calçadão que passa por toda a orla da cidade.

Teatro Solis, Plaza Independencia e porta de casarão colonial no centro de Montevidéu.

Teatro Solis, Plaza Independencia e porta de casarão colonial no centro de Montevidéu.

Voltando a saga até Cabo, comprei por 410 pesos (R$ 44) a passagem de ônibus pela companhia Rutas de Sol. Saindo da rodoviária de Montevidéu, a viagem dura 4h30m até o kilômetro 264,5 da Rota 10. É lá que os turistas devem estacionar o carro e pegar um trator (170 pesos ida e volta) que sacoleja por uma meia hora, atravessando pequenas dunas até chegar no centro da cidade.

Trator que faz o trajeto até o centro de Cabo Polônio

Trator que faz o trajeto até o centro de Cabo Polônio

Descendo do trator e seguindo o caminho de terra até o hotel, vi dezenas de casinhas e cabanas de madeira coloridas, tendas de artesanato e grupos engajados em performances artísticas de circo, canto e dança. Toda uma aura hippie, um astral ótimo!

Cabanas e casinhas coloridas - marca registrada de Cabo Polônio

Cabanas e casinhas coloridas – marca registrada de Cabo Polônio

Rodas, cantos & performances em cada canto de Cabo.

Rodas, cantos & performances em cada canto de Cabo.

Eu e duas amigas havíamos reservado o La Perla del Cabo por USD 110 a noite (Cabo Polônio é hipponga, mas não é super barato). Com comida excelente,  banho mais pra frio do que quente, eletricidade movida a gerador em horas específicas e um quarto beeem pequeno e sem janela, era um hotel simples que tinha status de 5 estrelas para os padrões locais.

Mas a verdade é que ninguém vai pra Cabo pra ficar no quarto do hotel. Já no primeiro entardecer, depois de 10 minutos de caminhada pra atravessar um morro até a Playa Sur, um pôr-do-sol de arrepiar deu as boas vindas. Fazia muito tempo que não via o sol mergulhar entre as ondas. Tinha bastante gente na praia e todo mundo ficou em silêncio, hipnotizado. Queria viver mais 100 momentos iguais a esse.

Playa Sur dando as boas vindas em Cabo Polônio.

Playa Sur dando as boas vindas em Cabo Polônio.

Pôr do sol em Cabo Polônio.

Finzinho de tarde em Cabo Polônio.

No próximo dia, Reveillon! A combinação era perfeita: sol de 30 graus, praia, ondas tranqüilas, jarras de clericot no bar Al Fin y al Cabo, sem falar na ceia deliciosa e cheia de detalhes graciosos no La Perla. Depois da ceia, champagne e fogos, a frente fria chegou. Sem coragem de fazer longas caminhadas, fomos até o bar mais próximo: o Estación Central. É uma cabana rústica que originalmente é um bar de rock, mas naquele dia tocou de Rihanna a Calle 13. Olha, não sei se foi o fernet, o champagne ou ambos, mas tava bem animado! E aqui vale o adendo um tanto subjetivo, mas não menos importante: uruguaios son guapísimos. Foi o que se pode chamar de um feliz ano novo!

Imperdível bar Al Fin y Al Cabo, brinde na ceia do La Perla, fogos e fogueira pra espantar o frio no Reveillon.

Já no dia 1o de janeiro: ressaca geral.  As ondas invadiram a varanda do hotel, o tempo estava feio, chuvisquento, frio e ventava horrores. Tava tipo gorro, luva e cachecol quando sua mala só tem vestido, biquíni e havaianas. Nesse cenário desanimador, a pedida foi colocar a leitura em dia. Li um conto na Piauí, chamado A Onda.  Excelente, mas um tanto paranóico de se ler quando as ondas estão praticamente invadindo o seu quarto!

Bom, era hora de pular da cama, perseguir os pingos de gota quente no chuveiro, sobrepor todas as roupas e caçar programa. Com uma temperatura de 12 graus (!), resolvemos sair pra jantar. À noite, é bem bonito. Tochas e velas iluminam os caminhos do povoado. Felizmente encontramos um restaurante com uma aconchegante lareira.  Comemos nababescamente peixe, purê de batata, legumes, pãezinhos, patês, tudo acompanhado por necessárias tacinhas de vinho. Foi uma noite boa, embora eu sentisse ter embarcado para os Alpes Suíços com uma mala de quem vai pra Caraíva. Exagero? Talvez. Mas como boa brasuca, verão e calor são palavras interligadas no meu imaginário.

No dia seguinte, durante o café da manhã, avistamos 1 (um) raio de sol. Catarse!  Eu e as meninas ficamos hiperativas. Caminhamos até as dunas, depois até o farol , símbolo de Cabo Polônio, para ver de perto centenas de leões marinhos nas rochas. Tiramos fotos. Mais dois raios de sol e  já nos espreguiçávamos na praia, apesar do vento gelado ainda estar lá. Ainda bebericamos e petiscamos empanadas a tarde inteira na área externa do Lo de Dani. Enfim, havíamos recuperado o clima de verão em nossos corações rs…

Rolê pela Playa Norte no dia 2

Rolê pela Playa Norte.

Visita ao farol

Visita ao farol.

Colônia de leões marinhos

CLARO QUE a empolgação e o ventinho constante fizeram com que eu ignorasse o filtro solar. Um erro. No fim do dia, parecia que eu tinha esfregado pimenta na cara – sensação amenizada quando um salva-vida, que se tornou nosso amigo, me deu uns pedaços de aloe vera pra passar na pele #anotaessadica.

Pôr do Sol Cabo Polônio

No último dia…

Pôr do sol de despedida no ultimo dia... Já pensando em voltar

…pôr-do-sol de despedida… Já pensando em voltar!

Mas o que eu não queria deixar de dizer, no final das contas, é que Cabo Polônio é mesmo um lugar diferente. Se eu pudesse acrescentar um adjetivo à lista, seria “místico”. {mís.ti.co1 : Que se relaciona com o espírito, e não com a matéria. Um lugar dado à vida contemplativa e espiritual – me confirma o Dicionário Michaelis}.

Alinhando as expectativas térmicas e levando uma mala versátil, pode facilmente ser um dos melhores verões da sua vida. É um lugar despretensioso, ainda preservado, onde come-se e bebe-se bem e tem um clima muito receptivo, leve e gostoso que atrai uma porção de gente bacana. O cantor Jorge Drexler e a banda argentina Onda Vaga são fãs e já fizeram homenagens ao local, que eu mostro aqui embaixo. E você, se já foi, qual adjetivo daria a Cabo Polônio? Se não foi, é o tipo de lugar que você iria? Adoraria ouvir de vocês.

UPDATE: Pra quem quiser visitar Cabo Polônio sem abrir mão de conforto e algumas facilidades, sugiro ficar hospedado em La Pedrera, que fica a 36km a serem percorridos de carro ou ônibus de linha em uma ótima estrada.

Praia de La Pedrera

Praia de La Pedrera

Arbustos de hortênsias na porta - um detalhe charmoso nas casas de La Pedrera.

Hortênsias multicoloridas – um detalhe charmoso nas casas de La Pedrera.

Além de hotéis com mais infra, La Pedrera tem restaurantes bacanas, mercados bem abastecidos e a sorveteria Popi, um hit do litoral uruguaio. Mais infos aqui.

Importante: Tanto Cabo quanto La Pedrera tem sua temporada entre novembro e abril, sendo a alta temporada entre o final do ano e o Carnaval. Fora desse período, muitos hotéis e restaurantes fecham e essas cidades ficam praticamente vazias.

LEIA MAIS:

Delta del Tigre x Colônia del Sacramento – Qual programa escolher com 1 dia livre em Buenos Aires?

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Sucre e tudo que amei na ciudad blanca da Bolívia

Há alguns meses fiz um post sobre La Paz, declarando o quanto eu acredito que mais pessoas podiam abandonar preconceitos e visitar a Bolívia. Hoje, resolvi escrever sobre Sucre, o coração simbólico da nação. Isso porque, apesar do governo ter se mudado para La Paz no final do século 19,  na constituição a cidade continua a ser considerada capital do país. Foi aqui, inclusive, que proclamaram a independência da Bolívia.

Eu poderia tentar me alongar nas explicações históricas, afinal a cidade é patrimônico histórico da Unesco, mas confesso que o que ficou na minha mente foi mais um registro visual e afetivo, uma vontade de contar pros outros “Ei, você precisa conhecer Sucre!”. Pra começar, algumas fotos:

Catedral de Sucre

Rua do centro histórico

Fachada do Convento San Felipe Neri

O centro histórico de Sucre é ou não é uma graça? Tem ainda canteiros de flores bem cuidados, senhores tranqüilos batendo papo na praça e estudantes ziguezagueando com suas mochilas pelas transversais. Os casarões coloniais estão bem preservados e abrigam belos pátios internos. Os conventos, igrejas e museus centenários são todos brancos, o que dá um charme especial ao local. Aliás, Sucre é conhecida como ciudad blanca e quem pintar a casa de uma cor escura pode até ser multado pela prefeitura.

Tem também duas outras características da cidade que me cativaram de vez. A primeira é que Sucre é famosa pelo seu chocolate e abriga dezenas de docerias, como a deliciosa Para Ti . Uma barrinha de chocolate com quinua e um café são a pedida certa no fim de tarde. A segunda é que a cidade tem o Museu de Artes Indígenas, um passeio imperdível que resgata as raízes dos povos Jalq’a e Tarabuco através dos desenhos, cores e técnicas apuradíssimas de seus artesanatos. São trabalhos preciosos que traduzem parte importante da cultura indígena de ontem e hoje na América Latina.

Artesã em seu tear – Museu de Artes Indígenas

Lado a lado: trabalhos da cultura Tarabuco e Jalq’a/ Foto: http://www.incapallay.org

No museu é possível ver as artesãs em ação e também comprar peças que seguem o modelo de comércio justo, onde a maior parte do valor de venda vai para o produtor. Ainda sobre esse assunto, aos domingos (se programe para estar em Sucre nesse dia), tem a célebre feira de Tarabuco. E lá fui eu, a procura de ‘artesanatos com alma’, pegar a van de 1 hora até a cidade.  Existem inúmeras excursões, mas ir de transporte público, trocando uma idéia com os simpáticos nativos, é uma experiência muito bacana e autêntica.

Praça central e tecidos coloridos na feira de Tarabuco

Cachorro de olho no sorvete. Cenas de um domingo na feira de Tarabuco.

Na feira vale afiar o olhar. No meio de artigos industrializados, há peças raras  e  originais feitas em teares manuais da cultura Tarabuco. É quase uma missão arqueológica separar o joio do trigo, mas depois da visita ao Museu de Artes Indígenas você vira quase um especialista!

>>> Pra mim esse tipo de artigo tem status de relíquia, então costumo insistir bastante no tema, como já deve ter dado pra perceber 😉

Mas voltando a Sucre, e aos passeios pelo centro histórico, indico o Museo de La Catedral, onde fica a linda capela da Virgem de Guadalupe, a reluzente e dourada igreja Nuestra Senora de La Merced e o Convento San Felipe Neri, que tem um terraço maravilhoso com vista imperdível da cidade. Vale também bater perna pelo Mercado Central.

Lindo terraço do Convento San Felipe Neri

Para comer, acabei comprando coisas no supermercado SAS e cozinhando na pousada Wasi Masi, uma hospedagem com excelente custo benefício. Também almocei duas vezes no vegetariano El Gérmen, que é gostoso e baratíssimo.

O que mais dizer sobre Sucre? Que é a cidade mais segura da Bolívia, a mais bela, que é um centro de aprendizado que atrai estudantes de diversos países? Enfim, Sucre é tipo um amigo legal que você quer apresentar pra todo mundo, sabe?

Inclua a cidade no seu roteiro e depois não deixe de me contar suas impressões. Para chegar lá, são 15 horas de ônibus a partir de La Paz, 3 horas de Potosí, 12 horas de Cochabamba e 9 horas de Uyuni (com uma troca de ônibus em Potosí).

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10 dicas de como fazer a mala de viagem ideal

Quem não gosta de uma lista, um top 5 e curiosidades do gênero? Eu adoro! Por isso simpatizei com o post The 10 Rules of Packing, escrito por Aric S. Queen para o site da National Geographic.

Planejando e escolhendo os itens certos, você experimentará as vantagens de viajar leve.

O texto me lembrou das perguntas que costumo receber sobre como fazer uma mala ideal. Resolvi, então, editá-lo em uma livre tradução – com direito a comentários em azul! Não é um tratado geral sobre o assunto, tampouco uma lista definitiva, mas acredito que seja bem útil. Dá uma olhada:

The 10 Rules of Packing 

1: A Regra de Ouro: Tire metade das roupas que você está planejando levar e duplique o dinheiro. Eu mal posso enfatizar o quanto isso é verdade!

[Perfeito! Ótimo cálculo!!]

2: Leve somente o que couber em uma mala de mão. Todos nós perdemos bagagem antes e é um sofrimento. Mas quando faz 3 graus na Polônia, e você está com aquele moletom horrível que insiste usar em vôos longos, ouvindo “assim que nós acharmos sua mala, mandaremos pra você”, isso realmente pode ser uma grande roubada. E – sem ofender os poloneses – mas ter que comprar um guarda roupa inteiro na Polônia pode não ser exatamente como você planejou gastar seu orçamento. Viajar apenas com mala de mão também significa que você precisa ter um exemplar com rodinhas, que vale cada centavo!

[Não cheguei – ainda – no ápice da praticidade de viajar só com mala de mão, mas certamente coloco nela uma muda de roupa, itens de higiene pessoal e artigos mais valiosos como presentes importantes,  câmera, iPod, etc – coisas que eu não me perdoaria se perdesse. Na mala que despacho vão itens com os quais eu sou menos apegada e poderiam ser repostos sem drama]

Adesivo de frágil evita danos a sua bagagem.

3: Quando for despachar a bagagem, peça no balcão para colarem a etiqueta “frágil”, o que assegura que sua mala será colocada no topo da pilha e será uma das primeiras a ser tirada do avião. Outra coisa: sua mala não será a única da cor preta, então coloque um adesivo vermelho nela – ou qualquer coisa que te ajude a reconhecê-la no meio da multidão.  

[Vou adotar a etiqueta frágil na bagagem, na esperança de que ela seja mais bem tratada. Sobre a sinalização da mala, sempre amarro um chumaço de fitas bem colorido, o que funciona super bem, já que  gosto de avistar minha mala de longe na esteira]

Lenços coloridos são leves, ocupam pouco espaço e dão charme ao visual básico.

4: Misture e combine. Com 3 camisetas e 3 partes de baixo você já tem 9 looks!

[Reduza as estampas, escolha peças lisas e clássicas que combinem entre si e aposte nos acessórios, como lenços e brincos, pra dar uma animada no visual. Pra mim, esse é o segredo de uma mala funcional e compacta. No quesito calçados, se tiver a intenção de andar bastante, não se iluda: sandálias e saltos vão torturar seus pés e um bom tênis será seu melhor amigo]

Prático e leve: na próxima viagem o notebook fica e o tablet vai!

5: Livros são sexy. Mas discos de vinil também. Portanto, se poupe dos quilos extras e preencha seu tablet com todos os livros e guias de viagem que precisa.

[Sim, tá mais do que na hora de eu comprar meu iPad. Alternativamente, costumava tirar fotocópias somente das páginas mais úteis dos guias, encaderná-las com um espiral e, conforme vou passando pelos lugares, arranco as folhas. Também costumo dar essas folhas para quem está indo para um dos destinos pelos quais já passei. Outra vantagem de não viajar com o guia é poder fazer uma série de anotações e rabiscos, sem danificar o original]

6: Não seja uma diva. Se você é o tipo de pessoa que precisa viajar com seu própria secador de cabelo (pois o do hotel não é bom o bastante), então eu sugeriria uma semana em meio à neblina dos Alpes.

[Não seja uma diva on the road. Não deixe de pegar transporte compartilhado, comer algo típico em um mercado mais rústico, acampar se o cenário for imperdível e por aí vai. No quesito arrumação de mala, abra mão das 3 opções de sandálias e do seu necessaire de esmaltes. A ideia não é passar aperto, mas sim se desprender dos excessos para circular com tranquilidade. PS1: Claro que é uma delícia contrabalancear certas “privações” com luxos pontuais, como comer em um restaurante excelente, comprar um casaco lindo ou substituir um trecho de ônibus por avião. PS2: Estou looonge de ser uma diva nas viagens, mas no quesito secador de cabelo, tenho um ultra pequeno e compacto que levo para hostels quando estou viajando para lugares frios e não quero dormir com a cabeça molhada. Vale super a pena]

7. Casacos e blusas ocupam um espaço precioso na bagagem e pesam demais. A menos que você esteja indo para o inverno da Rússia, se vestir em camadas funciona tão bem quanto.

[Dica preciosa. Certa vez errei feio e levei um daqueles casacos mega acolchoados para uma viagem de 2 meses. Devo ter usado 1 vez e era sempre um problema fazer ele caber na mala. Para o frio, o esquema das 3 camadas não falha: uma blusa segunda pele, um casaco mais quentinho, como um sleece ou polar e, por fim, um casaco leve do tipo corta vento e impermeável. Se a viagem for menos esportiva, inclua um cashemere e uma jaqueta quentinha ou, se a ocasião pedir algo mais chique,  troque a jaqueta por um (só um) sobretudo de uma cor coringa (preto, marrom,  cinza, azul marinho ou caramelo). Outra boa pedida para as mulheres é levar 2 meia-calças fio 40, uma preta e outra colorida. Aquece, compõe o look com calça, saia, vestido – as gringas amam usar com shorts – e podem ser usadas sobrepostas pra aquecer ainda mais]

8. Se você conseguir, evite o jeans. É polemico e eu deveria ter abordado isso no segundo tópico. Eles absorvem sujeira (e odores), são volumosos e levam dias para secar. Algodão é a melhor opção. 

[Taí um desafio. Nunca viajei sem jeans, mas faz sentido. Tenho uma calça azul excelente 70% algodão, 30% poliamida fácil de lavar, seca rápido, combina com tudo e o melhor: ultra confortável. Com mais uma dessa, eu deixo o jeans no armário]

Minha mochila da Uncle K. Compacta e com vários compartimentos, é perfeita para uso diário nas viagens.

9: Se é importante e não cabe na sua bolsa ou mochila de uso diário, deixe em casa. Objetos são roubados não importa para onde você está indo. Por mais incômodo que seja, eu estou constantemente carregando meu computador, câmera, etc, nas costas – e em lugares lotados, por mais ridículo que possa parecer, eu carrego a mochila na frente, junto ao corpo.

[Eu não desligo nunca o “desconfiômetro”. Na Bolívia ou na Suíça: nada de deixar a mala aberta se estiver em um hostel (nem em  hotéis estrelados eu deixo), não coloque a mala de mão no compartimento superior do bagageiro se for fazer uma viagem longa de ônibus (especialmente as noturnas), não deixe de colocar cadeado na mala SEMPRE, guarde os pertences valiosos no cofre, não fique contando dinheiro na rua após fazer um saque no caixa automático – por mais estranho que pareça,  tem gente que faz isso. No quesito segurança, tenho uma mochilinha ótima – ver foto acima – com zíper na parte das costas, o que inibe possíveis furtos.]

10. Todo país que eu já visitei vende sabonete. E shampoo. E meias. E camisetas. O que você esquecer, poderá comprar.

[Sim, inexplicavelmente eu já levei uma mala cheia de barras de cereal e fiquei driblando os cachorros da polícia federal chilena, já que é expressamente proibido entrar com comida em outros países. Totalmente desnecessário, pois todo supermercado vendia a tal barrinha. Sobre os cosméticos, levo tudo em frascos pequenos e vou reabastecendo ao longo da viagem. Nada de levar um shampoo e um condicionador de 250 ml, que no final das contas pesam bastante na sua mala].

Uma última coisa: Sabe aqueles sapatos plásticos de jardinagem que por algum motivo se tornaram aceitáveis no meio fashion? Faça a seu país um favor e não use.” 

[Bom, eu definitivamente também não sou fã dos Crocs, exceto para crianças de até 9 anos, é claro.]

Eu achei as dicas bem úteis. E você? Para seguir as aventuras do Aric, acesse seu blog pessoal ou o siga no twitter @aricsqueen. Para ler a matéria original, em inglês, clique aqui.

Fotos: Getty Images

Pisco Elqui – Um lugar para conhecer na sua próxima viagem ao Chile

Há tempos queria publicar esse post. É que entre Santiago e San Pedro do Atacama existe um lugar encantador que você precisa conhecer: O Vale do Elqui.

Pisco Elqui: ensolarada o ano todo.

Formado por cidades charmosas e produtoras de pisco, ensolarado 300 dias por ano, cercado pela Cordilheira dos Andes e dono de um dos céus mais lindos do mundo, o Vale convida ao descanso, à meditação e outras atividades contemplativas.

Entre as cidades da região, elegi Pisco Elqui para passar 3 dias. O lugar surgiu por acaso nos meus planos, quando fazia uma pesquisa pela internet e vi fotos que traduziam perfeitamente o significado da palavra “férias”. Ao menos o tipo de férias que eu tinha em mente, com tempo para ficar caçando desenhos em nuvens…

Céu de Pisco Elqui: Pra mim é uma lhama. E pra vocês?

Abaixo, listei meus programas preferidos por lá (e que eu acho que você deveria conferir ao vivo).

1)  Trilha pelas montanhas e ‘pueblos’ do Vale +Downhill de bike

Pisco Elqui é pequena, como as cidades aconchegantes devem ser. Na O`Higgins, rua principal que fica em frente à igreja, ficam as duas agências de turismo da região. Acabei entrando na Migrantes, puxei papo com o simpático casal de donos e fechei um tour que incluía trilha pelas montanhas, passeio pelos  ‘pueblitos’ pitorescos do Valle e um downhill de bike no fim da tarde, quando as montanhas ficam alaranjadas e a vista é LINDA. Dá uma olhada:

Caminhada pelas montanhas e visita aos ‘pueblitos’ do Vale do Elqui.
Picos nevados podem ser observados durante a trilha/ Visita ao centro de artesanato local com direito a refrescante fonte dos desejos!
Entardecer no Vale do Elqui: faz bem para os olhos!

2)  Turismo Astronômico (o céu do Valle do Elqui é um dos mais propícios do mundo para isso!)

Frio extremo compensado pelo encantamento de ver a Lua de perto – Meu 1o. tour astronômico no Observatório de Cancana!

À noite faz muito frio. Por isso, vesti um casaco ultra quente antes de encarar uma estradinha estreita por 20 minutos que me levaria até Cochiguaz, onde o Observatório Astronômico Cancana está localizado. A visita, acompanhada por uma mini aula sobre constelações, é incrível!

Foi inesquecível ir até o telescópio e conferir bem de perto estrelas, Vênus, Saturno orbitando em seu anel e finalmente a Lua, toda prateada. Outros observatórios bacanas são Mamalluca e El Pangue .

3)  Massagens terapêuticas

Espaço para meditação e técnica de massagem nos pés/ Fotos: Templo del Sol – Masajes y Terapias holísticas integrales.

Sou fã de terapias corporais, de uma massagem caprichada, daquelas que a gente se transporta pra outro mundo pelo toque do terapeuta, música, perfume e temperatura do ambiente. A boa é que Pisco Elqui tem inúmeras opções nesse sentido: ayuverdica, reiki, pedras quentes, holística, biomagnetismo, shiatsu e por aí vai. Escolha a sua preferida e separe ao menos um dia pra conhecer o lado místico e zen da cidade.

4)  Degustação de Pisco

Entrada da Destilaria Mistral, na Calle O’ Higgins. “O melhor pisco do mundo”, segundo os chilenos.
Restaurante e degustação de pisco na Destilería Mistral.

Pisco Elqui não ganhou esse nome por acaso. Assim sendo, uma visita guiada à famosa Destileria Pisco Mistral é mais do que obrigatória. Aproveite para fazer uma degustação e conhecer os diversos tipos da bebida. Se puder, ainda almoce no restaurante de lá. A vista é convidativa!

5)  Passar a manhã na rede do jardim do Hostal Triskel

Pernas pro ar na rede do Hostal Triskel.

Um desafio pessoal: descansar nas férias. Museus, lojas, prédios históricos, restaurantes e outros afazeres das cidades grandes me obrigam a acelerar o passo para visitar tantos locais interessantes. Já em Pisco Elqui, tempo livre está entre os atrativos principais. Que delícia acordar tarde e ficar uma manhã inteira de pernas pro ar,  espreguiçando na rede do jardim do hotel e lendo um bom livro.

Pisco Elqui – Modo de fazer:

Centenas de europeus passam por lá o ano todo, mas o local ainda se mantém inexplorado pelos brasileiros. Então simbora conhecer Pisco Elqui?

Como chegar:

Fonte: Google Maps

As companias de ônibus Via Elqui e Sol de Elqui fazem o trajeto em 2 horas e meia saindo de La Serena.

Para chegar a La Serena, existem vôos com cerca de 1h30 de duração a partir de Santiago ou Calama (cidade mais próxima de San Pedro do Atacama). De ônibus, o trajeto é mais longo, 8 e 15 horas respectivamente.

 Onde ficar:

Foto: Hostal Triskel

Hostal Triskel é uma hospedaria simples, mas muito gostosa. Seu custo-benefício é ótimo e por 9000 pesos chilenos (R$ 32,00) por pessoa você desfruta de um ótimo café da manhã, um jardim inspirador e uma simpática cozinha compartilhada.

Onde comer:

Para sucos naturais e saladas frescas, visite “El Tesoro de Elqui”, na praça principal da cidade. Uma quadra adiante, na mesma rua, está “El Durmiente Elquino”. Lá, comi um excelente arroz selvagem com legumes e cogumelos. Há também carnes e pizzas artesanais que vão muito bem com uma tacinha de vinho 😉

Outras cidades interessante para visitar no Valle são Vicunha e Montegrande (terra da poetisa e prêmio Nobel de literatura Gabriela Mistral).

Mais informações aqui.

LEIA MAIS:

Meus lugares favoritos em San Pedro de Atacama – Onde se hospedar, o que comer e o que visitar na cidade.
Quatro passeios para desvendar o deserto do Atacama.
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Santo André, meu achado de verão no sul da Bahia.

Tranquilidade absoluta em plena véspera de Reveillon: minha idéia de paraíso!

Badejo assado na folha de bananeira com farofa de coco, cuscuz marroquino e tagliatelle al dente com camarão. Hum… tudo estava incrível e renderia uma longa ceia, se não fosse o relógio lembrando que eram 5 pra meia-noite. Mais alguns tic-tacs e todos foram tomados pela euforia de correr pra praia com uma taça na mão.

5, 4, 3, 2, 1! Um show de fogos coloridos explodiu sobre a minha cabeça. Eram centenas deles e estavam incrivelmente perto. Foi lindo, realmente lindo. E assim começou meu 2012, na praia de Santo André, sul da Bahia.

Sobre Santo André

Meninos brincam no rio João de Tiba/ Canoa, bici e coqueiros na beira mar.

Santo André surgiu no meu roteiro de Reveillon aos 45 do segundo tempo. No dia 13 de dezembro, me peguei pensando em possíveis destinos e lembrei das três vezes que estive na Bahia, todas inesquecíveis. Concluí que não podia, e nem deveria, passar outros 8 anos longe. Era hora de matar a saudade!

Chegando a Santo André me surpreendi. Como pode um lugar tão próximo a Porto Seguro, notoriamente terra do axé music e das festas de formatura, ser essa calmaria toda? Apurando entre os moradores, soube que nos últimos anos a praia esteve mais cheia em função da festa de música eletrônica “Dolce Vitta”, mas que nesse verão o agito havia migrado de vez para a vizinha Trancoso, a prima “hype$$$” de Santo André, por assim dizer.

“Sorte a minha”, pensei. “Agora é só me dedicar à fina arte do dolce far niente“. E me dediquei com afinco. Foram 8 dias de havaianas no pé e água de coco na mão. Na mala, só biquinis, vestidos e filtro solar. Mais que isso, é exagero.

Maria Farinha dá as boas-vindas

Mas o fato é que Santo André tem pouco mais de 500 habitantes e se mantém relativamente no anonimato. O belo local tem a rara tranqüilidade de uma vila de pescadores, somada à forte influência da cultura estrangeira.  São alemães, italianos, argentinos, portugueses que foram chegando, se apaixonando e, por isso, ficando.

O lance é que na Bahia esse tipo de mistura dá pé. Tem arroz arbóreo, tomate pelatti e azeite de primeira dividindo espaço com suco de graviola no mini mercadinho. E tem molho pesto feito de caroço de jaca na mesa do Marcello, italiano dono da casa em que fiquei hospedada. Bom demais!

Santo André – Modo de fazer

Casa que alugamos do Marcello, que vive na ponte aérea Milão-Bahia com sua família.

Está precisando de férias onde seu principal compromisso seja ir da rede pro mar e do mar pra rede? Então tome nota:

– Compre passagem para Porto Seguro, que fica a 1h45 de vôo de São Paulo. Gol, TAM e Azul operam essa rota.

– Do aeroporto de Porto Seguro, pegue um taxi que percorrerá 42 km até Santa Cruz da Cabrália, onde pega-se uma balsa que dura 10 minutos. Esse traslado custará entre R$ 120 e 150.

Onde se hospedar: Eu e uma turma de amigos alugamos a casa do Marcello. Veja detalhes do imóvel aqui. Outras sugestões são as pousadas Araticum, Gaili e Ponta de Santo André.

O que fazer: Durante o dia, a boa é caminhar na praia. Tanto o lado direito, que dá no rio João de Tiba, quanto o esquerdo, onde há piscinas naturais, são passeios bem agradáveis.

Para conhecer as proximidades, um lugar bacana é Belmonte, onde belos casarões coloniais remetem à prosperidade do cacau vivida na Bahia no final do século 19.  Outra sugestão é alugar uma bicicleta e explorar as praias vizinhas, como Santo Antônio e Guaiú.

Passeios de barco, aulas de kite e windsurf completam o cardápio de opções para os mais aventureiros.

Santana’s e Varanda: culinária italiana em Santo André.

Onde comer/ sair: À noite os turistas  saem da toca e se encontram nos restaurantes. Boas dicas são a pizza ultra artesanal do Varanda,  o calzone do Santana’s, o dourado do Flordecita e a comida regional do Gaivota e do Almescla.

Na alta temporada, vale conferir os shows de música que acontecem no jardim do Mata Encantada, a programação cultural, o cenário charmoso e os drinques do Casapraia (experimente o mojito!) ou o forró do Cabana Nativa.

O que comprar: Para lembranças bacanas e autênticas, visite o Atelier Leila Tassis e conheça os produtos de papelaria feitos da fibra de bananeira. No mesmo local, Rui Costa mostra suas luminárias esculpidas em troncos de árvore. Na pizzaria Varanda, não deixe de ver as cúpulas pintadas à mão em tecido. Outra artesã que merece ser prestigiada é a Leide, do Jóias da Floresta. Suas bijuterias, criadas a partir de sementes da região, são lindas e super criativas.

Fique de olho >>>

– Na baixa temporada, Santo André fica quase deserta. Se quiser se enturmar e ter serviços por perto, fique no Costa Brasilis, único resort da região.

– Fique atento ao troco. Mais por falta de atenção do que por má fé, na maioria das vezes tive problemas com a conta nos mercados, restaurantes e lojas.

– Apesar do clima despretensioso da vila, os restaurantes não são nenhuma pechincha. Espere gastar em torno de R$35 em um prato e uma bebida não alcóolica.

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La Paz, a caótica e encantadora capital da Bolívia

Devo dizer que La Paz  não me ganhou no primeiro dia, mas me arrebatou no segundo. Explico: assim que desembarquei na rodoviária, foi impossível ignorar que a capital federal e maior cidade da Bolívia crescia desordenadamente emoldurada por um mar de favelas. Sem falar no fuzuê de buzinas e na correria das ruas ocupadas por executivos, indígenas e turistas.

La Paz imensa: crescimento desordenado avança sobre montanhas da cidade.

Já no dia seguinte, respirei fundo, peguei minha mochila e resolvi encarar os arredores da famosa avenida Mariscal Santa Cruz. Foi um dia cansativo, que me levou até a Plaza Murillo. Sentada na escadaria da praça,  em frente a Catedral, comecei, finalmente, a reparar. Observei primeiro as cholas (como popularmente são chamadas as nativas indígenas) e como elas trajavam com orgulho sua saia e chapéu típicos – sem serem uma caricatura de si próprias. Depois, chamou minha atenção o fato de que, mesmo vivendo em uma notável pobreza econômica, não vi crianças mendigando esmolas aos turistas ou sob efeito de entorpecentes (o que, infelizmente, é comum onde moro em SP). Havia ainda as praças e vias públicas que guardavam jardins floridos e bem conservados.

Cholas circulam pela Plaza Murillo. Ao fundo, a Catedral.

Fiquei particularmente tocada ao me deparar com um cenário em que escassez de recursos não está necessariamente relacionada à violência urbana. Alguns dirão que a população indígena de La Paz é resignada, explorada e ingênua. Outros podem pensar que eu não andei por todos os becos e periferias para compreender os graves problemas sociais da cidade. E qualquer um desses argumentos talvez seja válido. Mas viagem, pra mim, é uma experiência mais sensorial do que racional. E ao ver o orgulho daqueles que, a despeito de todo o progresso, perpetuam os valores de seus ancestrais, me emocionei de verdade. Nunca esquecerei do que senti na caótica, sufocante, confusa e, paradoxalmente, encantadora La Paz.

Vai lá:

Conheço várias pessoas que mal puseram os pés em La Paz e partiram para a rodoviária ou o aeroporto, decididos a zarpar rapidamente “desse lugar feio”. Naquela boa e velha idéia de não julgar o livro pela capa, aconselho o turista mais reticente a dar uma chance e dedicar ao menos 3 dias à cidade. Abaixo, listo mais 9 motivos para isso (e  3 ciladas a serem evitadas).

1)   Centro da cidade: Visite a bela Catedral construída em uma ladeira ao lado do Palácio Presidencial. Bem em frente, passe algum tempo observando o movimento da Praça Murillo, onde cholas costumam se reunir para dar milho as pombas e colocar a conversa em dia. A Iglesia San Francisco também vale a visita.

Charme colonial dos museus da Calle Jaen.

2)   Calle Jaen: Esta rua super charmosa, com arquitetura colonial, abriga quatro museus (Casa de Murillo, Costumbrista Juan de Vargas, Del Litoral e Metales Preciosos). Eles contam parte da história de La Paz e, como são pequenos, podem ser facilmente visitados em algumas horas. Além disso, a rua tem lojas e bares interessantes.

3)   Lojas de comércio justo e solidário. Não deixe de visitar as lojas Ayni (C. Illampu, 704) e Artesanía Sorata (C. Sagérnaga, 363), onde é possível encontrar artigos preciosos feitos a mão, conhecer a história de cada povoado indígena e, o mais importante, remunerar justamente os artesãos e incentivar a manutenção da cultura local.

4)   Lojas de esporte de aventura: Boa dica para os viajantes que pretendem fazer trilhas e outros esportes outdoor, as lojas da Calle Illampu valem a visita pelos preços ao menos 30% mais baratos do que no Brasil. Andean Base Camp e Tatoo estão entre as mais completas e conhecidas.

Visita obrigatória: mercado de feitiçaria.

5)   Mercado de Feitiçaria: Diariamente, entre as ruas Jimenez e Linares, fetos de llama secos, amuletos, poções e outros balangandãs são comercializados em tendas nas calçadas. Peça uma explicação breve e leve ao menos uma escultura pequena da Pachamama, deusa protetora conhecida como “mãe terra”.

6)   Downhill pela estrada da morte até Coroico. Trata-se de uma descida de bicicleta muito popular e feita, geralmente, em 1 dia. Apesar de várias empresas oferecerem o tour, é fundamental fazer uma boa pesquisa e não economizar no quesito segurança e confiabilidade. O preço do passeio gira em torno de 600 bolivianos e está sujeito às condições climáticas, sendo suspenso em caso de chuva ou neve. B-Side e Gravity são empresas bem recomendadas

Templo religioso em Tiwanaku.

7)   Tiwanaku. Passeio imperdível às ruínas da civilização Tiwanaku (600 A.C.), antecessora dos incas. Parece que você mergulhou em uma daquelas páginas incríveis da revista National Geographic! O passeio, oferecido por todas as agências, inclui transporte, visita guiada ao centro religioso e aos museus que abrigam antigas e novas descobertas das escavações que até hoje são feitas na região. Destaque para o monolito Bennetto Pachamama, com mais de 7 metros de altura!

8)   Miradores. Não perca a chance de conferir La Paz vista de cima. Um mirador que você pode ir a pé, caminhando com pequenas paradas para recuperar o fôlego, é o Laikakota. Fica em um Parque que, de quebra, tem vista para a bonita formação rochosa do Valle de la luna.

9)   Peña. Se você fosse gringo e estivesse no Rio, iria em um samba na Lapa. Como você é gringo em La Paz, vá a uma peña! Uma boa opção é a Marka Tambo (Calle Jaén 710).

Fuja:

1)   Água e comida de procedência minimamente duvidosa. Vai na minha: em La Paz essa dica vale ouro. Se tem um lugar onde os viajantes passam mal do estômago, é na Bolívia. Pergunte sempre se a água é mineral, procure provar os pratos típicos em restaurantes conhecidos (com o câmbio a nossa favor, nunca será caro demais!), se quiser comprar petiscos, prefira os industrializados.

2)   Lugares feitos exclusivamente por e para gringos.  Algo que me irritou em La Paz: a apropriação dos gringos nas atividades turísticas. Por várias vezes fui atendida exclusivamente em inglês e recebi olhares espantosos quando preferi me comunicar em espanhol. Estou louca ou comprei uma passagem para La Paz, Bolívia, América do Sul?

3)   Andar como se não houvesse amanhã. Então você chega em La Paz e se sente um super herói porque “nem tá sentindo essa tal de altitude”. A cidade é grande, cheia de ladeiras, mas vamos lá! Aham… até a paisagem começar a rodar a sua volta e você sentar exausto na calçada. Não caia nessa, se hidrate bem, modere os esforços físicos e reserve ao menos um dia para se aclimatar. Se precisar, economize as pernas e peça para o recepcionista do hotel chamar um taxi de uma frota confiável.

La Paz – Modo de Fazer

Moradores de El Alto, bairro periférico e de maioria indígena em La Paz.

Como chegar:

Aerosur, Taca, Avianca e LAN são algumas da companias aéreas que te levam, com uma escala, de São Paulo até La Paz. No quesito preço, a boliviana Aerosur é imbatível e tem passagens, ida e volta, a partir de USD 325*, mais taxas. No aeroporto, pegue um taxi por cerca de 30 bolivianos para percorrer os 10 km até o centro da cidade.

De ônibus, existem saídas diárias para La Paz partindo das principais cidades bolivianas. Para viagens longas e ônibus noturnos, se informe sobre empresas voltadas a turistas para garantir o mínimo de conforto durante o trajeto. (Não é frescura, as estradas na Bolívia são precárias e muitos veículos não possuem banheiro, cobertor ou assento reclinável).

Onde ficar:

Fiquei no Hostal Provenzal, um 3 estrelas simples, mas simpático e bem localizado na Calle Murillo. Hoje, um quarto single com banheiro e TV sai por $110 bs*.

Para quem busca conforto, staff gentil e bem treinado e um bom restaurante, o Hotel Rosário é a melhor pedida a partir de $420* bolivianos a diária, em um quarto para solteiro.

Onde comer:

Sei que é uma delícia experimentar quitutes típicos pelas ruas e mercados de uma cidade que visitamos. No entanto, desaconselho fazer isso em La Paz, onde a água, especialmente, pode trazer bactérias as quais nosso organismo não está acostumado.

Para não abrir mão nem da culinária nem da saúde, vá ao Tambo Colonial, que fica dentro do Hotel Rosário e irá te custar algo entre 10 e 15 dólares*. Para experimentar uma autêntica salteña, visite o super econômico Paceña La Salteña.

*Preços pesquisados em outubro de 2011.

LEIA MAIS:
Copacabana e Ilha do Sol – Onde o Lago Titicaca é mais azul.
Semana Salar de Uyuni – Paisagens surpreendentes na fronteira entre Chile e Bolívia.
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Três dias em Quito, a versátil e bela capital do Equador.

Fachada das casas do centro histórico de Quito - Patrimônio histórico da UNESCO.

Dez horas de viagem de ônibus separam Cuenca de Quito. Já era noite quando desembarquei na rodoviária principal que, por sinal, me pareceu nova e muito boa. Assim que entrei no taxi, o motorista se apressou em dizer: “Olha, existem duas cidades para você conhecer. A primeira é La Mariscal, uma zona com construções modernas e dominada pelos gringos. A segunda é o centro histórico, que é lindo, autêntico e remete às origens de Quito.”.

Me apressei para achar na mochila a reserva que havia feito no Hostel Revolution. Ufa, “estou na segunda opção”, digo ao motorista. Ele abre um sorriso aprovador e segue até a porta da minha estadia.

Na manhã seguinte, com o sol nascendo, resolvi separar um dia para os arredores de Quito, um para o centro e outro para o Mariscal. A idéia era chegar e me perder pelos lugares, bater perna, ser surpreendida.

Dia 1 –  Arredores

Fiquei entre ir a Baños, a 3 horas de Quito, conhecida pelos seus vulcões e pelos tours de aventura, ou para Otavalo, a 1 hora de distância, onde, aos sábados, acontece uma das maiores feiras indígenas sul-americanas, com artesanatos belíssimos a preços tentadores.

Há também um passeio super popular para um parque chamado “Mitad del Mundo”, onde passa a linha imaginária do Equador. Mas esse eu certamente pularia.

Por uma questão de logística, acabei achando que Otavalo renderia um bate-volta perfeito.  Assim sendo, fui para a rodoviária antiga de Quito, paguei USD2,00 e percorri 100km até lá.

Artigos coloridos na feira de Otavalo.

A feira é cativante e multi-colorida. Há uma infinidade de blusas de lã de llama , tapetes, toalhas bordadas a mão, chapéus, mantas… Sem falar nas belas pulseiras, colares e anéis de tagua, tipo de noz extraída de uma palmeira equatoriana.

E o melhor: tudo por lá é radicalmente negociável! Não fique constrangido, pois o comerciante já espera que você barganhe, fazendo com que os preços iniciais sejam quase fictícios.  Comprei um chapéu modelo panamenho de USD 20,00 por USD 10,00, mantas incríveis para cama de casal de USD 36,00 por USD 18,00 e várias pulseiras de tagua (que aliás são ótimos presentes) por USD1,00 cada. E sim, desembolsei USD7,00 por uma mala de tecido para carregar tudo isso.

Para quem for a Otavalo, considere dormir na cidade para fazer um passeio até as comunidades indígenas. Há também um tour, que parece imperdível, para a Lagoa de Cuicocha, localizada na cratera do vulcão desativado Cotacachi.

Dia 2 – Centro histórico

No segundo dia em Quito, acordei cedo e caminhei até o Centro Cultural Itchimbía, que oferece uma linda vista panorâmica da cidade, assim como o mirante El Panecillo, onde fica a estátua da Virgem de Quito.

Basílica de Quito.

Em seguida, desci uma escadaria até alcançar a imponente Basílica, curiosamente inspirada na catedral de Notre Dame. De lá, caminhei até a parte colonial da cidade, que é patrimônio histórico da UNESCO e foi recém restaurada. Tive a sorte de fazer esse passeio em um domingo,  pois além das ruas do centro ficarem fechadas para os ciclistas, havia inúmeros eventos culturais.

Igreja e convento San Francisco

Danças típicas em um domingo de sol no centro histórico de Quito.

Foi assim, entre declamação de poemas, cantorias e danças típicas, que circulei  entre o palácio presidencial, a Catedral, as praças Grande,  Santo Domingo e San Francisco, com seu lindo monastério, e as várias igrejas da cidade.

Fachada da Igreja La Compañía de Jesus

No que diz respeito a igrejas, destaco a La Compañía de Jesus. Difícil explicar sua rara beleza barroca, com paredes, colunas, altar e teto inteiramente folheados a ouro. A fachada traz vários santos talhados em pedras vulcânicas mesclados à reprodução de flores e frutas típicas do Equador. Emocionante, tem-que-ir!

Quanto às compras, há alguns achados bacanas. A loja de roupas e presentes Muyuyo é um bom exemplo de comércio justo e sustentável. Fica na tradicional Calle Ronda, que vale a visita por ser uma das ruas mais antigas e boêmias da cidade. Na Plaza Grande, confira também a El Quinde, que fica junto ao Centro de Informações Turísticas e tem uma seleção diferenciada de artesanatos locais.

Depois do almoço, voltei caminhando para o hostel e acabei passando pelo Museu Nacional do Banco Central, já na divisa com La Mariscal. Resolvi dar um pulo e conferi, gratuitamente, sua extensa coleção arqueológica.

De quebra, no jardim do museu, assisti o show do Papa Changó, grupo que mistura ska e reggae com ritmos latinos e é tido como uma promessa da música equatoriana. Feliz da vida, estiquei minha canga, sentei na grama e curti um fim de dia perfeito, daqueles que só uma viagem com roteiros flexíveis pode proporcionar.

Dia 3 – La Mariscal

Era hora de explorar La Mariscal. Comecei pela famosa Av. Amazonas, que fica  logo depois do Parque El Ejido. Conforme o taxista havia me avisado, Quito é toda cosmopolita por aqui.  Era segunda-feira, os bancos estavam abertos, executivos circulavam com suas pastas, o espanhol se misturava com o inglês tagarelado pelos turistas que ganhavam as ruas. Ruas que, por sinal, são recheadas de lojas, bares, baladas e restaurantes.

Hotel Marriott na Av. Amazonas e restaurante da Praça Foch no bairro La Mariscal./ Fotos: Reprodução Hotel JW Marriott e Flickr

Apesar de preferir mil vezes o centro histórico, devo confessar que gostei do bairro Mariscal e aproveitei para deixar minha lista de compras em dia. Por lá, existem desde lojas de souvenirs caros e refinados, como é o caso da Olga Fisch, até feiras populares, como o Mercado Artesanal de La Mariscal, com toda sorte de quinquilharias irresistíveis.

Típico artesanato de tagua no Mercado Artesanal de La Mariscal/ Foto: Reprodução revista Líderes.ec

Ainda em La Mariscal, visitei o shopping Iñaquito, onde achei maquiagens a preços ótimos na Burbujas Express,  experimentei um pão de queijo delicioso feito de yuca (mandioca) e ainda comprei barras de chocolates para dar de presente a preços buenísimos no supermercado Supermaxi. Lembrando que chocolate é um dos presentes mais tradicionais para se trazer do Equador.

Cuenca x Quito

Lá vai minha opinião, prometida no post de Cuenca, sobre a rixa entre as duas cidades pelo posto de destino mais bonito do país. Como turista, recomendo a visita as duas. Cuenca é mais tranqüila, não tem o compromisso de ser a capital do país, parece apenas desfrutar da sua bela arquitetura, sem pressa. Já Quito, tem a seu favor a junção da prosperidade sem abandonar suas raízes históricas .  Indecisa que sou, para mim o placar segue empatado em 1 a 1.

Quito – Modo de fazer

Estátua da Virgen de Quito vista do Centro Cultural Itchímbia.

Como chegar – Não existem vôos diretos a partir do Brasil, mas TACA, TAM, Avianca e LAN são algumas das empresas que te levam com uma escala em Lima ou Bogotá . Estando no Equador, as principais cidades do país têm saídas diárias de ônibus.

Onde ficar – Para os mochileiros, gostei da simpatia dos proprietários do Hostel Revolution, que fica a uma curtíssima caminhada do centro histórico. A pé, também é possível chegar a La Mariscal em 15 minutos. Diárias a partir de USD10,00.

Começando em USD100,00 a diária, redes de hotéis renomadas, como Radisson e JW Marriot, estão à disposição no bairro Mariscal.

Onde comer –  La Mariscal concentra grande diversidade de restaurantes. Para encontrar outros viajantes enquanto toma café da manhã ou um lanche apetitoso, vá  ao Magic Bean, que também é hostel. Calle Foch E5-08.

Para curtir uma refeição típica, com um preço bacana, vá ao Hasta La Vuelta Señor, que fica no centro histórico na Calle Chile OE-422.

Tours – A maioria dos passeios pode ser feito por conta própria, como o roteiro que descrevi nesse post. No entanto, se quiser o auxílio de uma agência, até mesmo para planejar outros trechos da viagem, como a famosa extensão a Galápagos, consulte: Ecuadorian Tours e Intrepid Travel. 

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Cuenca: charme colonial na serra equatoriana
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Cuenca: charme colonial na serra equatoriana

Nada me angustia”. Foi o que escrevi no meu diário na última noite em Vilcabamba. Eu havia pedido demissão para viajar por 2 meses pela América do Sul, estava só, longe dos amigos e familiares, sem computador ou celular por perto… e nada me angustiava.

Aliás, pelo contrário. Com a alma lavada,  sem lenço nem documento, estava pronta para a próxima! E assim sendo, peguei um ônibus de 5 horas até Cuenca, terceira maior cidade do Equador, localizada na região serrana do país.

Quando cheguei, já era noite e senti que Cuenca era o tipo do lugar que se revelaria pela manhã.  Dito e feito. No dia seguinte, na primeira caminhada,  já senti enorme simpatia pelo centro da cidade, que depois descobri ser patrimônio histórico da UNESCO.

Parque Calderón com Nova Catedral ao fundo.

As fachadas preservadas, as ruas de pedra, as construções coloniais escondendo e revelando igrejinhas aqui e ali, tudo era super charmoso. Me entretive tirando fotos até às 09h00, quando abria a Catedral de la Inmaculada Concepción, também conhecida como Catedral Nova.

Um dos símbolos da cidade, esse templo religioso é bonito por dentro, mas especialmente interessante por fora, com sua construção de tijolos aparentes e as cúpulas azuis se destacando junto ao céu.

Cúpulas azuis da Nova Catedral.

Do outro lado da rua, atravessando o Parque Calderón, uma praça simpática e arborizada, fica a graciosa Catedral Vieja. Dali, resolvi caminhar pelas imediações e conhecer a Casa de La Mujer, uma galeria de artesanatos indicada pela atendente do Centro de Informações Turísticas.

Descobrindo Cuenca

Estava olhando um trabalho de cestaria, quando ouvi: Hola chica, buenos dias!. Era o Abel, um holandês que conheci no hotel de Vilcabamba. Foi uma feliz coincidência reencontrá-lo. E, como nenhum dos dois tinha grandes planos, acabamos passando o dia juntos, explorando a cidade.

Primeiro, ziguezagueamos pelo centro, passando por lojinhas, galerias e os mercados populares das praças Rotary e San Francisco, até chegarmos a fábrica Barranco, que expõe e vende autênticos chapéus panamenhos, com direito a um museu dedicado à peça.

Barranco - fabricação, exposição e venda de lindos chapéus panamenhos (feitos no Equador).

Lá, aprendi que os famosos chapéus panamenhos são, na verdade, equatorianos e só levam esse nome por serem exportados através do porto do Panamá. Eles são fabricados artesanalmente, a partir da palha Toquilla, em Cuenca e na pequena província de Montecristi.

Depois de uma verdadeira aula sobre sombreros, aproveitamos para tomar um capuccino no simpático café que fica dentro da fábrica e tem uma bonita vista panorâmica da cidade.

Mnham... couvert do Tiesto's! Eram 10 potes com pastinhas diferentes só pra abrir o apetite.

Lá pela 1 da tarde, resolvemos almoçar no Tiesto’s. Grande acerto! Servindo pastas e saladas apetitosas, o ponto alto do restaurante são os steaks, aclamados como os melhores do país.  Além disso, a ambientação é tradicional e colorida, fazendo do local um dos mais bem recomendados pelos guias e sites especializados.

Ponte quebrada ou "puente roto" no passeio pelas margens do rio Tomebamba.

Depois, resolvemos bater perna pelas margens do rio Tomebamba, que divide a cidade entre o centro histórico e uma área residencial mais moderna. No fim do passeio, estávamos próximos ao Banco Central, que abriga o Museo Pumapungo, o mais importante da cidade.

Me encantei com a exposição (super completa) sobre o patrimônio cultural equatoriano.  Destaco o primeiro andar, com uma mostra etnográfica dos diferentes povos que habitaram o país, com direito a maquetes, reproduções em tamanho real das tribos, exemplares de roupas e objetos de caça e pesca.

Ruínas incas da cidade de Tobemamba no Parque Arqueológico de Pumapungo.

Saindo de lá, demos uma volta pelas ruínas do parque arqueológico de Pumapungo. que fica atrás do museuHoje, pouco restou do que um dia foi um importante centro religioso e administrativo do império inca. No entanto, o passeio é válido para apreciar espécies da fauna e flora andina, cultivadas no local.

O sol já caía quando me despedi de Abel, não sem antes pegar umas  dicas ótimas sobre Amsterdam, lugar que fui 2 vezes e pretendo retornar muitas outras.

Gostinho de quero mais

Fim de tarde no centro histórico de Cuenca. Vontade de não ir embora...

Na manhã seguinte, fui embora lamentando não ter tido tempo suficiente para saborear um café sem pressa, estrear meu recém adquirido chapéu  panamenho nas ruas do centro histórico, explorar melhor as escadas de pedra que ligam a Calle Larga ao rio Tomebamba, enfim, para me familiarizar melhor com aquela cidade bonita e cativante.

Sem contar os passeios nos arredores, como o Parque Nacional de Cajas, as vilas de Gualaceo e Chordeleg, que são conhecidas pelos belos artesanatos, ou mesmo um tour pelas ruínas incas de Ingapirca.

Mas não me abalei. Quito estava por vir e não seria nada mal conferir, in loco, qual a cidade mais bela do Equador, rixa alimentada pelos cidadãos cuencanos e quiteños. Minha sincera opinião no próximo post 😉

Cuenca, manual prático:

Casa del sombrero, fachada de igreja e cidadã cuencana na frente da Catedral Nova.

Como chegar: 441 km ao sul de Quito, fica a 9 horas de viagem de ônibus ou 50 minutos de avião. Avianca e Lan são duas companias aéreas que te levam, a partir do Brasil, para Cuenca com uma escala em Bogotá ou Lima, respectivamente, e outra em Quito.

Onde ficar: Hotel Casa del Aguila, Fica bem próximo ao centro histórico e custa a partir de USD 65,00 (diária em quarto duplo).

Onde comer:

Steaks, massas e saladas: Tiestos’s – Calle Juan Jaramillo 7-34

Culinária italiana: Di Bacco Cocina Bar Vino – Calle Tarqui 9-61

Café da manhã e guloseimas: Kookaburra Café – Calle Larga 9-40.

 O que visitar em 1 dia:

Catedral de la Inmaculada Concepción – Parque Calderón (praça principal)

Catedral Vieja – Parque Calderón (praça principal)

Centro de Informações Turísticas – Parque Calderón (praça principal)

Casa de la Mujer – Calle Torres 7-33

Mercando San Francisco – Calle Padre Aguirre com Córdova.

Barranco (museu de chapéus) – Calle Larga 10-41

Museu e Parque Arqueológico Pumapungo (Banco Central)- Calle Larga com Av. Huayna Cápac

 > Para tours de 1 dia por Cuenca e arredores ou  para diversos destinos ecológicos equatorianos, consulte a agência EcoTrek (Calle Larga 7-108)

Saiba mais sobre Cuenca em: http://www.cuenca.com.ec/

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Três dias em Quito, a versátil e bela capital do Equador.
Algo pasa en Vilcabamba: Um refúgio de paz e sossego no sul do Equador.
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Algo pasa en Vilcabamba: Um refúgio de paz e sossego no sul do Equador.

Nesse último mês, uma série de acontecimentos me fez querer partir para um lugar longe dos rostos e das ruas familiares, dos assuntos sem importância, dos pequenos desgastes tão desnecessários quanto corriqueiros.

Precisava de um refúgio. E não valia tirar uns dias de descanso em casa, cercada pela rotina. Tampouco uma viagem que me fizesse raciocinar demais sobre horários, vôos e números de plataforma.

Vilcabamba - Jardim e piscina da Hosteria Izkhayluma

Na realidade, eu queria mesmo era a paz de espírito que encontrei em Vilcabamba, uma cidadezinha com pouco mais de 4 mil habitantes no sul do Equador. Meu reino por alguns dias nesse povoado pacato e belo, quase desconhecido pelos brasileiros.

No ano passado, Vilcabamba apareceu sem querer no meu roteiro, quando visitei outro lugar encantador, chamado Pisco Elqui, no Chile. Um casal simpaticíssimo, dono de uma empresa de ecoturismo, comentou com entusiasmo que os habitantes de lá facilmente ultrapassavam a barreira dos 100 anos de idade e até os cachorros faziam mais de 20 aniversários!

Intrigada com esses dados, escrevi o nome da cidade em um pedaço de papel, mas mantive os planos de chegar no Equador via Guayaquil. Eis que um dia, almoçando sozinha em Arequipa, no Peru, peguei uma revista. Logo no primeiro artigo, li que cientistas japoneses e norte-americanos estavam desenvolvendo estudos em Vilcabamba para desvendar o segredo da longevidade dos seus moradores. “É, algo pasa en Vilcabamba…”, pensei.

Detalhes do jardim do Izhcayluma. O lugar certo, na hora certa.

Havia ainda a indicação do Izhcayluma, descrito como um hotel com “a elegância de um spa e preço para mochileiros” . E o melhor: por incríveis USD 20,00 a diária com café da manhã (!!!).  Sem falar nas massagens que custavam entre USD 12 e 25. Sem pestanejar, naquele mesmo minuto troquei Guayaquil por Vilcabamba.

Chegando em Vilcabamba

Meu trajeto até lá não foi dos mais agradáveis. Fiz uma viagem noturna a partir de Mâncora, praia ao norte do Peru. O ônibus era precário e sacolejava consideravelmente, o que  me deixou quebrada, além de bem enjoada.

Quando finalmente desembarquei em Loja, território equatoriano, eram quase 7 da matina. Meio zonza, peguei o primeiro ônibus com destino a Vilcabamba e, 42 kilometros depois, desci na rodoviária para ir de taxi até o hotel. Foi a conta certa. Assim que cheguei no Izhcayluma , com a recepção ainda fechada, me atirei em uma rede que parecia estar lá justamente para mim. Apaguei.

Fui acordar lá pelas 09h30, com o tilintar das louças e copos do café da manhã, servido em um restaurante com uma vista linda para um vale. Peguei as chaves e caminhei para meu quarto, admirando o paisagismo do hotel. Tudo parecia reconfortante, principalmente a falta de pressa para curtir aquele local tão tranquilo.

Rede na varanda do meu quarto. Sem pressa, nem angústia. Tudo na mais perfeita paz.

Nesse dia, fiquei recolhida, descansando. Com a mente quieta, é impressionante como pensamentos bem escondidos, quase ocultos, vêm à tona. E como é bom poder se emocionar, meditar, rezar e deixar essa energia fluir sem o tic-tac do relógio, sem ter que forjar nenhum estado de espírito que não seja genuíno.

São realmente raros os momentos em que somos totalmente nós mesmos, em que desfrutamos da nossa própria essência e companhia. E Vilcabamba me deu esse presente.

À noite, ainda conversei com meus vizinhos de quarto, um casal de alemães, com 2 filhos pequenos, que havia largado tudo na sua terra natal e passado 4 anos morando em Galápagos. Uma história repleta de aventuras que, certamente, só ampliou meu gosto por viajar e questionar qualquer modelo de vida que me seja apresentado como único e certo.

Cenário da caminhada que liga o hotel Izhkayluma ao centro, longevidade até no nome das ruas da cidade e igreja central.

No dia seguinte, caminhei até o centro da cidade, que é bem pequeno. Lá, conheci trabalhos artesanais lindos e delicados feitos com prata e pedras e experimentei um delicioso cookie integral de chocolate em uma padaria belga.

Na volta, almocei uma truta saborosa no restaurante do Izhcayluma (com pratos em torno de USD 6) e, para coroar minha estadia, marquei uma longa e excelente sessão de reiki e massagem, daquelas que vão do dedinho do pé até o topo da cabeça.

Longevidade dos moradores de Vilcabamba

Conversei sobre o assunto com os proprietários do hotel e com os comerciantes, muitos deles nativos. Soube que álcool, tabaco e carne são consumidos regularmente e que o povo é festeiro, excluindo as 9.999 pesquisas que regem os bons preceitos da saúde e alimentação. Alguns especulam sobre a mineralização natural da água, outros sobre o clima, ameno ao longo do ano.

Cidadãos mais longevos do mundo botam o papo em dia na pracinha.

Não tenho dados empíricos, mas arrisco dizer que ausência de trânsito, violência, poluição e buzina, preço justo, natureza abundante, clima de primavera, gentileza e uma vida um tiquinho mais offline devem representar ao menos 70% dessa alta expectativa de vida.

Seja como for, na minha singela opinião, cidade que encara massagem como questão de saúde ao invés de estética, já sai na frente logo de cara 🙂 E foi por essas e outras que Vilcabamba entrou na minha lista de lugares simples, mas surpreendentes, dos quais me orgulho imensamente de ter visitado.

Tá buscando um refúgio pra ficar sozinho com seus pensamentos? Coloque Vilcabamba no seu roteiro!

crédito do mapa: hosteria Izhcayluma

Localização: 650 km ao sul de Quito. São 50 minutos de vôo até Loja, onde deve-se pegar um ônibus de 1 hora (42km) até Vilcabamba. Principais cidades equatorianas e ao norte do Peru tem saídas diárias de ônibus para Loja.

Restaurante e SPA do hotel Izhcayluma/ fotos: Hosteria Izhcayluma

Onde ficar:Hosteria Izhcayluma http://www.izhcayluma.com

Onde comer: Restaurante do hotel Izhcayluma (peixe, carne, massas, saladas e sopas a preços ótimos)

Layseca’s Belgian Chocolatier (padaria com café, bolos, cookies, pães fesquinhos   e saborosos. Tudo entre 1 e 2 dólares).

Passeios: Caminhadas, passeios a cavalo e de bicicleta e uma visita ao parque nacional Podocarpus são os programas mais indicados. Se estiver afim de desacelerar, como eu, vá de massagem no SPA do Izhcayluma e caminhadas leves pela região.

Mais sobre Vilcabamba aqui: http://www.vilcabamba.org

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