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Três dias em Quito, a versátil e bela capital do Equador.

Fachada das casas do centro histórico de Quito - Patrimônio histórico da UNESCO.

Dez horas de viagem de ônibus separam Cuenca de Quito. Já era noite quando desembarquei na rodoviária principal que, por sinal, me pareceu nova e muito boa. Assim que entrei no taxi, o motorista se apressou em dizer: “Olha, existem duas cidades para você conhecer. A primeira é La Mariscal, uma zona com construções modernas e dominada pelos gringos. A segunda é o centro histórico, que é lindo, autêntico e remete às origens de Quito.”.

Me apressei para achar na mochila a reserva que havia feito no Hostel Revolution. Ufa, “estou na segunda opção”, digo ao motorista. Ele abre um sorriso aprovador e segue até a porta da minha estadia.

Na manhã seguinte, com o sol nascendo, resolvi separar um dia para os arredores de Quito, um para o centro e outro para o Mariscal. A idéia era chegar e me perder pelos lugares, bater perna, ser surpreendida.

Dia 1 –  Arredores

Fiquei entre ir a Baños, a 3 horas de Quito, conhecida pelos seus vulcões e pelos tours de aventura, ou para Otavalo, a 1 hora de distância, onde, aos sábados, acontece uma das maiores feiras indígenas sul-americanas, com artesanatos belíssimos a preços tentadores.

Há também um passeio super popular para um parque chamado “Mitad del Mundo”, onde passa a linha imaginária do Equador. Mas esse eu certamente pularia.

Por uma questão de logística, acabei achando que Otavalo renderia um bate-volta perfeito.  Assim sendo, fui para a rodoviária antiga de Quito, paguei USD2,00 e percorri 100km até lá.

Artigos coloridos na feira de Otavalo.

A feira é cativante e multi-colorida. Há uma infinidade de blusas de lã de llama , tapetes, toalhas bordadas a mão, chapéus, mantas… Sem falar nas belas pulseiras, colares e anéis de tagua, tipo de noz extraída de uma palmeira equatoriana.

E o melhor: tudo por lá é radicalmente negociável! Não fique constrangido, pois o comerciante já espera que você barganhe, fazendo com que os preços iniciais sejam quase fictícios.  Comprei um chapéu modelo panamenho de USD 20,00 por USD 10,00, mantas incríveis para cama de casal de USD 36,00 por USD 18,00 e várias pulseiras de tagua (que aliás são ótimos presentes) por USD1,00 cada. E sim, desembolsei USD7,00 por uma mala de tecido para carregar tudo isso.

Para quem for a Otavalo, considere dormir na cidade para fazer um passeio até as comunidades indígenas. Há também um tour, que parece imperdível, para a Lagoa de Cuicocha, localizada na cratera do vulcão desativado Cotacachi.

Dia 2 – Centro histórico

No segundo dia em Quito, acordei cedo e caminhei até o Centro Cultural Itchimbía, que oferece uma linda vista panorâmica da cidade, assim como o mirante El Panecillo, onde fica a estátua da Virgem de Quito.

Basílica de Quito.

Em seguida, desci uma escadaria até alcançar a imponente Basílica, curiosamente inspirada na catedral de Notre Dame. De lá, caminhei até a parte colonial da cidade, que é patrimônio histórico da UNESCO e foi recém restaurada. Tive a sorte de fazer esse passeio em um domingo,  pois além das ruas do centro ficarem fechadas para os ciclistas, havia inúmeros eventos culturais.

Igreja e convento San Francisco

Danças típicas em um domingo de sol no centro histórico de Quito.

Foi assim, entre declamação de poemas, cantorias e danças típicas, que circulei  entre o palácio presidencial, a Catedral, as praças Grande,  Santo Domingo e San Francisco, com seu lindo monastério, e as várias igrejas da cidade.

Fachada da Igreja La Compañía de Jesus

No que diz respeito a igrejas, destaco a La Compañía de Jesus. Difícil explicar sua rara beleza barroca, com paredes, colunas, altar e teto inteiramente folheados a ouro. A fachada traz vários santos talhados em pedras vulcânicas mesclados à reprodução de flores e frutas típicas do Equador. Emocionante, tem-que-ir!

Quanto às compras, há alguns achados bacanas. A loja de roupas e presentes Muyuyo é um bom exemplo de comércio justo e sustentável. Fica na tradicional Calle Ronda, que vale a visita por ser uma das ruas mais antigas e boêmias da cidade. Na Plaza Grande, confira também a El Quinde, que fica junto ao Centro de Informações Turísticas e tem uma seleção diferenciada de artesanatos locais.

Depois do almoço, voltei caminhando para o hostel e acabei passando pelo Museu Nacional do Banco Central, já na divisa com La Mariscal. Resolvi dar um pulo e conferi, gratuitamente, sua extensa coleção arqueológica.

De quebra, no jardim do museu, assisti o show do Papa Changó, grupo que mistura ska e reggae com ritmos latinos e é tido como uma promessa da música equatoriana. Feliz da vida, estiquei minha canga, sentei na grama e curti um fim de dia perfeito, daqueles que só uma viagem com roteiros flexíveis pode proporcionar.

Dia 3 – La Mariscal

Era hora de explorar La Mariscal. Comecei pela famosa Av. Amazonas, que fica  logo depois do Parque El Ejido. Conforme o taxista havia me avisado, Quito é toda cosmopolita por aqui.  Era segunda-feira, os bancos estavam abertos, executivos circulavam com suas pastas, o espanhol se misturava com o inglês tagarelado pelos turistas que ganhavam as ruas. Ruas que, por sinal, são recheadas de lojas, bares, baladas e restaurantes.

Hotel Marriott na Av. Amazonas e restaurante da Praça Foch no bairro La Mariscal./ Fotos: Reprodução Hotel JW Marriott e Flickr

Apesar de preferir mil vezes o centro histórico, devo confessar que gostei do bairro Mariscal e aproveitei para deixar minha lista de compras em dia. Por lá, existem desde lojas de souvenirs caros e refinados, como é o caso da Olga Fisch, até feiras populares, como o Mercado Artesanal de La Mariscal, com toda sorte de quinquilharias irresistíveis.

Típico artesanato de tagua no Mercado Artesanal de La Mariscal/ Foto: Reprodução revista Líderes.ec

Ainda em La Mariscal, visitei o shopping Iñaquito, onde achei maquiagens a preços ótimos na Burbujas Express,  experimentei um pão de queijo delicioso feito de yuca (mandioca) e ainda comprei barras de chocolates para dar de presente a preços buenísimos no supermercado Supermaxi. Lembrando que chocolate é um dos presentes mais tradicionais para se trazer do Equador.

Cuenca x Quito

Lá vai minha opinião, prometida no post de Cuenca, sobre a rixa entre as duas cidades pelo posto de destino mais bonito do país. Como turista, recomendo a visita as duas. Cuenca é mais tranqüila, não tem o compromisso de ser a capital do país, parece apenas desfrutar da sua bela arquitetura, sem pressa. Já Quito, tem a seu favor a junção da prosperidade sem abandonar suas raízes históricas .  Indecisa que sou, para mim o placar segue empatado em 1 a 1.

Quito – Modo de fazer

Estátua da Virgen de Quito vista do Centro Cultural Itchímbia.

Como chegar – Não existem vôos diretos a partir do Brasil, mas TACA, TAM, Avianca e LAN são algumas das empresas que te levam com uma escala em Lima ou Bogotá . Estando no Equador, as principais cidades do país têm saídas diárias de ônibus.

Onde ficar – Para os mochileiros, gostei da simpatia dos proprietários do Hostel Revolution, que fica a uma curtíssima caminhada do centro histórico. A pé, também é possível chegar a La Mariscal em 15 minutos. Diárias a partir de USD10,00.

Começando em USD100,00 a diária, redes de hotéis renomadas, como Radisson e JW Marriot, estão à disposição no bairro Mariscal.

Onde comer –  La Mariscal concentra grande diversidade de restaurantes. Para encontrar outros viajantes enquanto toma café da manhã ou um lanche apetitoso, vá  ao Magic Bean, que também é hostel. Calle Foch E5-08.

Para curtir uma refeição típica, com um preço bacana, vá ao Hasta La Vuelta Señor, que fica no centro histórico na Calle Chile OE-422.

Tours – A maioria dos passeios pode ser feito por conta própria, como o roteiro que descrevi nesse post. No entanto, se quiser o auxílio de uma agência, até mesmo para planejar outros trechos da viagem, como a famosa extensão a Galápagos, consulte: Ecuadorian Tours e Intrepid Travel. 

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Cuenca: charme colonial na serra equatoriana

Nada me angustia”. Foi o que escrevi no meu diário na última noite em Vilcabamba. Eu havia pedido demissão para viajar por 2 meses pela América do Sul, estava só, longe dos amigos e familiares, sem computador ou celular por perto… e nada me angustiava.

Aliás, pelo contrário. Com a alma lavada,  sem lenço nem documento, estava pronta para a próxima! E assim sendo, peguei um ônibus de 5 horas até Cuenca, terceira maior cidade do Equador, localizada na região serrana do país.

Quando cheguei, já era noite e senti que Cuenca era o tipo do lugar que se revelaria pela manhã.  Dito e feito. No dia seguinte, na primeira caminhada,  já senti enorme simpatia pelo centro da cidade, que depois descobri ser patrimônio histórico da UNESCO.

Parque Calderón com Nova Catedral ao fundo.

As fachadas preservadas, as ruas de pedra, as construções coloniais escondendo e revelando igrejinhas aqui e ali, tudo era super charmoso. Me entretive tirando fotos até às 09h00, quando abria a Catedral de la Inmaculada Concepción, também conhecida como Catedral Nova.

Um dos símbolos da cidade, esse templo religioso é bonito por dentro, mas especialmente interessante por fora, com sua construção de tijolos aparentes e as cúpulas azuis se destacando junto ao céu.

Cúpulas azuis da Nova Catedral.

Do outro lado da rua, atravessando o Parque Calderón, uma praça simpática e arborizada, fica a graciosa Catedral Vieja. Dali, resolvi caminhar pelas imediações e conhecer a Casa de La Mujer, uma galeria de artesanatos indicada pela atendente do Centro de Informações Turísticas.

Descobrindo Cuenca

Estava olhando um trabalho de cestaria, quando ouvi: Hola chica, buenos dias!. Era o Abel, um holandês que conheci no hotel de Vilcabamba. Foi uma feliz coincidência reencontrá-lo. E, como nenhum dos dois tinha grandes planos, acabamos passando o dia juntos, explorando a cidade.

Primeiro, ziguezagueamos pelo centro, passando por lojinhas, galerias e os mercados populares das praças Rotary e San Francisco, até chegarmos a fábrica Barranco, que expõe e vende autênticos chapéus panamenhos, com direito a um museu dedicado à peça.

Barranco - fabricação, exposição e venda de lindos chapéus panamenhos (feitos no Equador).

Lá, aprendi que os famosos chapéus panamenhos são, na verdade, equatorianos e só levam esse nome por serem exportados através do porto do Panamá. Eles são fabricados artesanalmente, a partir da palha Toquilla, em Cuenca e na pequena província de Montecristi.

Depois de uma verdadeira aula sobre sombreros, aproveitamos para tomar um capuccino no simpático café que fica dentro da fábrica e tem uma bonita vista panorâmica da cidade.

Mnham... couvert do Tiesto's! Eram 10 potes com pastinhas diferentes só pra abrir o apetite.

Lá pela 1 da tarde, resolvemos almoçar no Tiesto’s. Grande acerto! Servindo pastas e saladas apetitosas, o ponto alto do restaurante são os steaks, aclamados como os melhores do país.  Além disso, a ambientação é tradicional e colorida, fazendo do local um dos mais bem recomendados pelos guias e sites especializados.

Ponte quebrada ou "puente roto" no passeio pelas margens do rio Tomebamba.

Depois, resolvemos bater perna pelas margens do rio Tomebamba, que divide a cidade entre o centro histórico e uma área residencial mais moderna. No fim do passeio, estávamos próximos ao Banco Central, que abriga o Museo Pumapungo, o mais importante da cidade.

Me encantei com a exposição (super completa) sobre o patrimônio cultural equatoriano.  Destaco o primeiro andar, com uma mostra etnográfica dos diferentes povos que habitaram o país, com direito a maquetes, reproduções em tamanho real das tribos, exemplares de roupas e objetos de caça e pesca.

Ruínas incas da cidade de Tobemamba no Parque Arqueológico de Pumapungo.

Saindo de lá, demos uma volta pelas ruínas do parque arqueológico de Pumapungo. que fica atrás do museuHoje, pouco restou do que um dia foi um importante centro religioso e administrativo do império inca. No entanto, o passeio é válido para apreciar espécies da fauna e flora andina, cultivadas no local.

O sol já caía quando me despedi de Abel, não sem antes pegar umas  dicas ótimas sobre Amsterdam, lugar que fui 2 vezes e pretendo retornar muitas outras.

Gostinho de quero mais

Fim de tarde no centro histórico de Cuenca. Vontade de não ir embora...

Na manhã seguinte, fui embora lamentando não ter tido tempo suficiente para saborear um café sem pressa, estrear meu recém adquirido chapéu  panamenho nas ruas do centro histórico, explorar melhor as escadas de pedra que ligam a Calle Larga ao rio Tomebamba, enfim, para me familiarizar melhor com aquela cidade bonita e cativante.

Sem contar os passeios nos arredores, como o Parque Nacional de Cajas, as vilas de Gualaceo e Chordeleg, que são conhecidas pelos belos artesanatos, ou mesmo um tour pelas ruínas incas de Ingapirca.

Mas não me abalei. Quito estava por vir e não seria nada mal conferir, in loco, qual a cidade mais bela do Equador, rixa alimentada pelos cidadãos cuencanos e quiteños. Minha sincera opinião no próximo post 😉

Cuenca, manual prático:

Casa del sombrero, fachada de igreja e cidadã cuencana na frente da Catedral Nova.

Como chegar: 441 km ao sul de Quito, fica a 9 horas de viagem de ônibus ou 50 minutos de avião. Avianca e Lan são duas companias aéreas que te levam, a partir do Brasil, para Cuenca com uma escala em Bogotá ou Lima, respectivamente, e outra em Quito.

Onde ficar: Hotel Casa del Aguila, Fica bem próximo ao centro histórico e custa a partir de USD 65,00 (diária em quarto duplo).

Onde comer:

Steaks, massas e saladas: Tiestos’s – Calle Juan Jaramillo 7-34

Culinária italiana: Di Bacco Cocina Bar Vino – Calle Tarqui 9-61

Café da manhã e guloseimas: Kookaburra Café – Calle Larga 9-40.

 O que visitar em 1 dia:

Catedral de la Inmaculada Concepción – Parque Calderón (praça principal)

Catedral Vieja – Parque Calderón (praça principal)

Centro de Informações Turísticas – Parque Calderón (praça principal)

Casa de la Mujer – Calle Torres 7-33

Mercando San Francisco – Calle Padre Aguirre com Córdova.

Barranco (museu de chapéus) – Calle Larga 10-41

Museu e Parque Arqueológico Pumapungo (Banco Central)- Calle Larga com Av. Huayna Cápac

 > Para tours de 1 dia por Cuenca e arredores ou  para diversos destinos ecológicos equatorianos, consulte a agência EcoTrek (Calle Larga 7-108)

Saiba mais sobre Cuenca em: http://www.cuenca.com.ec/

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Algo pasa en Vilcabamba: Um refúgio de paz e sossego no sul do Equador.

Nesse último mês, uma série de acontecimentos me fez querer partir para um lugar longe dos rostos e das ruas familiares, dos assuntos sem importância, dos pequenos desgastes tão desnecessários quanto corriqueiros.

Precisava de um refúgio. E não valia tirar uns dias de descanso em casa, cercada pela rotina. Tampouco uma viagem que me fizesse raciocinar demais sobre horários, vôos e números de plataforma.

Vilcabamba - Jardim e piscina da Hosteria Izkhayluma

Na realidade, eu queria mesmo era a paz de espírito que encontrei em Vilcabamba, uma cidadezinha com pouco mais de 4 mil habitantes no sul do Equador. Meu reino por alguns dias nesse povoado pacato e belo, quase desconhecido pelos brasileiros.

No ano passado, Vilcabamba apareceu sem querer no meu roteiro, quando visitei outro lugar encantador, chamado Pisco Elqui, no Chile. Um casal simpaticíssimo, dono de uma empresa de ecoturismo, comentou com entusiasmo que os habitantes de lá facilmente ultrapassavam a barreira dos 100 anos de idade e até os cachorros faziam mais de 20 aniversários!

Intrigada com esses dados, escrevi o nome da cidade em um pedaço de papel, mas mantive os planos de chegar no Equador via Guayaquil. Eis que um dia, almoçando sozinha em Arequipa, no Peru, peguei uma revista. Logo no primeiro artigo, li que cientistas japoneses e norte-americanos estavam desenvolvendo estudos em Vilcabamba para desvendar o segredo da longevidade dos seus moradores. “É, algo pasa en Vilcabamba…”, pensei.

Detalhes do jardim do Izhcayluma. O lugar certo, na hora certa.

Havia ainda a indicação do Izhcayluma, descrito como um hotel com “a elegância de um spa e preço para mochileiros” . E o melhor: por incríveis USD 20,00 a diária com café da manhã (!!!).  Sem falar nas massagens que custavam entre USD 12 e 25. Sem pestanejar, naquele mesmo minuto troquei Guayaquil por Vilcabamba.

Chegando em Vilcabamba

Meu trajeto até lá não foi dos mais agradáveis. Fiz uma viagem noturna a partir de Mâncora, praia ao norte do Peru. O ônibus era precário e sacolejava consideravelmente, o que  me deixou quebrada, além de bem enjoada.

Quando finalmente desembarquei em Loja, território equatoriano, eram quase 7 da matina. Meio zonza, peguei o primeiro ônibus com destino a Vilcabamba e, 42 kilometros depois, desci na rodoviária para ir de taxi até o hotel. Foi a conta certa. Assim que cheguei no Izhcayluma , com a recepção ainda fechada, me atirei em uma rede que parecia estar lá justamente para mim. Apaguei.

Fui acordar lá pelas 09h30, com o tilintar das louças e copos do café da manhã, servido em um restaurante com uma vista linda para um vale. Peguei as chaves e caminhei para meu quarto, admirando o paisagismo do hotel. Tudo parecia reconfortante, principalmente a falta de pressa para curtir aquele local tão tranquilo.

Rede na varanda do meu quarto. Sem pressa, nem angústia. Tudo na mais perfeita paz.

Nesse dia, fiquei recolhida, descansando. Com a mente quieta, é impressionante como pensamentos bem escondidos, quase ocultos, vêm à tona. E como é bom poder se emocionar, meditar, rezar e deixar essa energia fluir sem o tic-tac do relógio, sem ter que forjar nenhum estado de espírito que não seja genuíno.

São realmente raros os momentos em que somos totalmente nós mesmos, em que desfrutamos da nossa própria essência e companhia. E Vilcabamba me deu esse presente.

À noite, ainda conversei com meus vizinhos de quarto, um casal de alemães, com 2 filhos pequenos, que havia largado tudo na sua terra natal e passado 4 anos morando em Galápagos. Uma história repleta de aventuras que, certamente, só ampliou meu gosto por viajar e questionar qualquer modelo de vida que me seja apresentado como único e certo.

Cenário da caminhada que liga o hotel Izhkayluma ao centro, longevidade até no nome das ruas da cidade e igreja central.

No dia seguinte, caminhei até o centro da cidade, que é bem pequeno. Lá, conheci trabalhos artesanais lindos e delicados feitos com prata e pedras e experimentei um delicioso cookie integral de chocolate em uma padaria belga.

Na volta, almocei uma truta saborosa no restaurante do Izhcayluma (com pratos em torno de USD 6) e, para coroar minha estadia, marquei uma longa e excelente sessão de reiki e massagem, daquelas que vão do dedinho do pé até o topo da cabeça.

Longevidade dos moradores de Vilcabamba

Conversei sobre o assunto com os proprietários do hotel e com os comerciantes, muitos deles nativos. Soube que álcool, tabaco e carne são consumidos regularmente e que o povo é festeiro, excluindo as 9.999 pesquisas que regem os bons preceitos da saúde e alimentação. Alguns especulam sobre a mineralização natural da água, outros sobre o clima, ameno ao longo do ano.

Cidadãos mais longevos do mundo botam o papo em dia na pracinha.

Não tenho dados empíricos, mas arrisco dizer que ausência de trânsito, violência, poluição e buzina, preço justo, natureza abundante, clima de primavera, gentileza e uma vida um tiquinho mais offline devem representar ao menos 70% dessa alta expectativa de vida.

Seja como for, na minha singela opinião, cidade que encara massagem como questão de saúde ao invés de estética, já sai na frente logo de cara 🙂 E foi por essas e outras que Vilcabamba entrou na minha lista de lugares simples, mas surpreendentes, dos quais me orgulho imensamente de ter visitado.

Tá buscando um refúgio pra ficar sozinho com seus pensamentos? Coloque Vilcabamba no seu roteiro!

crédito do mapa: hosteria Izhcayluma

Localização: 650 km ao sul de Quito. São 50 minutos de vôo até Loja, onde deve-se pegar um ônibus de 1 hora (42km) até Vilcabamba. Principais cidades equatorianas e ao norte do Peru tem saídas diárias de ônibus para Loja.

Restaurante e SPA do hotel Izhcayluma/ fotos: Hosteria Izhcayluma

Onde ficar:Hosteria Izhcayluma http://www.izhcayluma.com

Onde comer: Restaurante do hotel Izhcayluma (peixe, carne, massas, saladas e sopas a preços ótimos)

Layseca’s Belgian Chocolatier (padaria com café, bolos, cookies, pães fesquinhos   e saborosos. Tudo entre 1 e 2 dólares).

Passeios: Caminhadas, passeios a cavalo e de bicicleta e uma visita ao parque nacional Podocarpus são os programas mais indicados. Se estiver afim de desacelerar, como eu, vá de massagem no SPA do Izhcayluma e caminhadas leves pela região.

Mais sobre Vilcabamba aqui: http://www.vilcabamba.org

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