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Algo pasa en Vilcabamba: Um refúgio de paz e sossego no sul do Equador.

Nesse último mês, uma série de acontecimentos me fez querer partir para um lugar longe dos rostos e das ruas familiares, dos assuntos sem importância, dos pequenos desgastes tão desnecessários quanto corriqueiros.

Precisava de um refúgio. E não valia tirar uns dias de descanso em casa, cercada pela rotina. Tampouco uma viagem que me fizesse raciocinar demais sobre horários, vôos e números de plataforma.

Vilcabamba - Jardim e piscina da Hosteria Izkhayluma

Na realidade, eu queria mesmo era a paz de espírito que encontrei em Vilcabamba, uma cidadezinha com pouco mais de 4 mil habitantes no sul do Equador. Meu reino por alguns dias nesse povoado pacato e belo, quase desconhecido pelos brasileiros.

No ano passado, Vilcabamba apareceu sem querer no meu roteiro, quando visitei outro lugar encantador, chamado Pisco Elqui, no Chile. Um casal simpaticíssimo, dono de uma empresa de ecoturismo, comentou com entusiasmo que os habitantes de lá facilmente ultrapassavam a barreira dos 100 anos de idade e até os cachorros faziam mais de 20 aniversários!

Intrigada com esses dados, escrevi o nome da cidade em um pedaço de papel, mas mantive os planos de chegar no Equador via Guayaquil. Eis que um dia, almoçando sozinha em Arequipa, no Peru, peguei uma revista. Logo no primeiro artigo, li que cientistas japoneses e norte-americanos estavam desenvolvendo estudos em Vilcabamba para desvendar o segredo da longevidade dos seus moradores. “É, algo pasa en Vilcabamba…”, pensei.

Detalhes do jardim do Izhcayluma. O lugar certo, na hora certa.

Havia ainda a indicação do Izhcayluma, descrito como um hotel com “a elegância de um spa e preço para mochileiros” . E o melhor: por incríveis USD 20,00 a diária com café da manhã (!!!).  Sem falar nas massagens que custavam entre USD 12 e 25. Sem pestanejar, naquele mesmo minuto troquei Guayaquil por Vilcabamba.

Chegando em Vilcabamba

Meu trajeto até lá não foi dos mais agradáveis. Fiz uma viagem noturna a partir de Mâncora, praia ao norte do Peru. O ônibus era precário e sacolejava consideravelmente, o que  me deixou quebrada, além de bem enjoada.

Quando finalmente desembarquei em Loja, território equatoriano, eram quase 7 da matina. Meio zonza, peguei o primeiro ônibus com destino a Vilcabamba e, 42 kilometros depois, desci na rodoviária para ir de taxi até o hotel. Foi a conta certa. Assim que cheguei no Izhcayluma , com a recepção ainda fechada, me atirei em uma rede que parecia estar lá justamente para mim. Apaguei.

Fui acordar lá pelas 09h30, com o tilintar das louças e copos do café da manhã, servido em um restaurante com uma vista linda para um vale. Peguei as chaves e caminhei para meu quarto, admirando o paisagismo do hotel. Tudo parecia reconfortante, principalmente a falta de pressa para curtir aquele local tão tranquilo.

Rede na varanda do meu quarto. Sem pressa, nem angústia. Tudo na mais perfeita paz.

Nesse dia, fiquei recolhida, descansando. Com a mente quieta, é impressionante como pensamentos bem escondidos, quase ocultos, vêm à tona. E como é bom poder se emocionar, meditar, rezar e deixar essa energia fluir sem o tic-tac do relógio, sem ter que forjar nenhum estado de espírito que não seja genuíno.

São realmente raros os momentos em que somos totalmente nós mesmos, em que desfrutamos da nossa própria essência e companhia. E Vilcabamba me deu esse presente.

À noite, ainda conversei com meus vizinhos de quarto, um casal de alemães, com 2 filhos pequenos, que havia largado tudo na sua terra natal e passado 4 anos morando em Galápagos. Uma história repleta de aventuras que, certamente, só ampliou meu gosto por viajar e questionar qualquer modelo de vida que me seja apresentado como único e certo.

Cenário da caminhada que liga o hotel Izhkayluma ao centro, longevidade até no nome das ruas da cidade e igreja central.

No dia seguinte, caminhei até o centro da cidade, que é bem pequeno. Lá, conheci trabalhos artesanais lindos e delicados feitos com prata e pedras e experimentei um delicioso cookie integral de chocolate em uma padaria belga.

Na volta, almocei uma truta saborosa no restaurante do Izhcayluma (com pratos em torno de USD 6) e, para coroar minha estadia, marquei uma longa e excelente sessão de reiki e massagem, daquelas que vão do dedinho do pé até o topo da cabeça.

Longevidade dos moradores de Vilcabamba

Conversei sobre o assunto com os proprietários do hotel e com os comerciantes, muitos deles nativos. Soube que álcool, tabaco e carne são consumidos regularmente e que o povo é festeiro, excluindo as 9.999 pesquisas que regem os bons preceitos da saúde e alimentação. Alguns especulam sobre a mineralização natural da água, outros sobre o clima, ameno ao longo do ano.

Cidadãos mais longevos do mundo botam o papo em dia na pracinha.

Não tenho dados empíricos, mas arrisco dizer que ausência de trânsito, violência, poluição e buzina, preço justo, natureza abundante, clima de primavera, gentileza e uma vida um tiquinho mais offline devem representar ao menos 70% dessa alta expectativa de vida.

Seja como for, na minha singela opinião, cidade que encara massagem como questão de saúde ao invés de estética, já sai na frente logo de cara 🙂 E foi por essas e outras que Vilcabamba entrou na minha lista de lugares simples, mas surpreendentes, dos quais me orgulho imensamente de ter visitado.

Tá buscando um refúgio pra ficar sozinho com seus pensamentos? Coloque Vilcabamba no seu roteiro!

crédito do mapa: hosteria Izhcayluma

Localização: 650 km ao sul de Quito. São 50 minutos de vôo até Loja, onde deve-se pegar um ônibus de 1 hora (42km) até Vilcabamba. Principais cidades equatorianas e ao norte do Peru tem saídas diárias de ônibus para Loja.

Restaurante e SPA do hotel Izhcayluma/ fotos: Hosteria Izhcayluma

Onde ficar:Hosteria Izhcayluma http://www.izhcayluma.com

Onde comer: Restaurante do hotel Izhcayluma (peixe, carne, massas, saladas e sopas a preços ótimos)

Layseca’s Belgian Chocolatier (padaria com café, bolos, cookies, pães fesquinhos   e saborosos. Tudo entre 1 e 2 dólares).

Passeios: Caminhadas, passeios a cavalo e de bicicleta e uma visita ao parque nacional Podocarpus são os programas mais indicados. Se estiver afim de desacelerar, como eu, vá de massagem no SPA do Izhcayluma e caminhadas leves pela região.

Mais sobre Vilcabamba aqui: http://www.vilcabamba.org

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