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Um adjetivo para Cabo Polônio – relatos de um verão uruguaio

É julho, pleno inverno, e vou escrever sobre meu verão de 2012 pra 2013. Sei que parece estranho, mas esse mix de frio e calor tem tudo a ver com meu  Reveillon em Cabo Polônio.

Cabo Polônio

A primeira vez que ouvi falar da reserva natural de Cabo Polônio foi em 2005. Desde então, quem voltava de lá trazia adjetivos como “inóspito”,  “diferente”, “rústico”, “imperdível”, “mágico”, seguido de um unânime:  “não dá pra explicar, tem que ir”. E, de fato, avaliando pelo Google Images, as fotos de dunas e leões marinhos, não me diziam muito.

Procurei saber o básico: não tinha ruas, água encanada ou luz elétrica. Carros eram raros, só os veículos 4×4 de alguns moradores eram permitidos. Era o tipo do lugar que a natureza se impunha. Com isso em mente, comprei a passagem, fiz as malas e peguei o caminho do aeroporto. Fui buscar o meu adjetivo pra Cabo Polônio.

Pra chegar lá, peguei um vôo São Paulo-Montevidéu pela TAM por 900 reais com taxas (bem ok pra alta temporada). Aproveitei e passei duas noites na capital uruguaia. Sobre Montevidéu, algumas percepções: muitos velhinhos, calçadão super simpático por toda a orla, vinhos ótimos entre 150 e 230 pesos (algo entre 16 e 24 reais), empanadas excelentes no mercado municipal. Ah, e todos (todos mesmo) carregam seus respectivos mates em térmicas ou cuias o dia inteiro, não importa quão desconfortável isso possa parecer.

Cães aproveitam o verão em Montevidéu. Ao fundo, calçadão que passa por toda a orla da cidade.

Cães aproveitam o verão em Montevidéu. Ao fundo, pessoas caminham no calçadão que passa por toda a orla da cidade.

Teatro Solis, Plaza Independencia e porta de casarão colonial no centro de Montevidéu.

Teatro Solis, Plaza Independencia e porta de casarão colonial no centro de Montevidéu.

Voltando a saga até Cabo, comprei por 410 pesos (R$ 44) a passagem de ônibus pela companhia Rutas de Sol. Saindo da rodoviária de Montevidéu, a viagem dura 4h30m até o kilômetro 264,5 da Rota 10. É lá que os turistas devem estacionar o carro e pegar um trator (170 pesos ida e volta) que sacoleja por uma meia hora, atravessando pequenas dunas até chegar no centro da cidade.

Trator que faz o trajeto até o centro de Cabo Polônio

Trator que faz o trajeto até o centro de Cabo Polônio

Descendo do trator e seguindo o caminho de terra até o hotel, vi dezenas de casinhas e cabanas de madeira coloridas, tendas de artesanato e grupos engajados em performances artísticas de circo, canto e dança. Toda uma aura hippie, um astral ótimo!

Cabanas e casinhas coloridas - marca registrada de Cabo Polônio

Cabanas e casinhas coloridas – marca registrada de Cabo Polônio

Rodas, cantos & performances em cada canto de Cabo.

Rodas, cantos & performances em cada canto de Cabo.

Eu e duas amigas havíamos reservado o La Perla del Cabo por USD 110 a noite (Cabo Polônio é hipponga, mas não é super barato). Com comida excelente,  banho mais pra frio do que quente, eletricidade movida a gerador em horas específicas e um quarto beeem pequeno e sem janela, era um hotel simples que tinha status de 5 estrelas para os padrões locais.

Mas a verdade é que ninguém vai pra Cabo pra ficar no quarto do hotel. Já no primeiro entardecer, depois de 10 minutos de caminhada pra atravessar um morro até a Playa Sur, um pôr-do-sol de arrepiar deu as boas vindas. Fazia muito tempo que não via o sol mergulhar entre as ondas. Tinha bastante gente na praia e todo mundo ficou em silêncio, hipnotizado. Queria viver mais 100 momentos iguais a esse.

Playa Sur dando as boas vindas em Cabo Polônio.

Playa Sur dando as boas vindas em Cabo Polônio.

Pôr do sol em Cabo Polônio.

Finzinho de tarde em Cabo Polônio.

No próximo dia, Reveillon! A combinação era perfeita: sol de 30 graus, praia, ondas tranqüilas, jarras de clericot no bar Al Fin y al Cabo, sem falar na ceia deliciosa e cheia de detalhes graciosos no La Perla. Depois da ceia, champagne e fogos, a frente fria chegou. Sem coragem de fazer longas caminhadas, fomos até o bar mais próximo: o Estación Central. É uma cabana rústica que originalmente é um bar de rock, mas naquele dia tocou de Rihanna a Calle 13. Olha, não sei se foi o fernet, o champagne ou ambos, mas tava bem animado! E aqui vale o adendo um tanto subjetivo, mas não menos importante: uruguaios son guapísimos. Foi o que se pode chamar de um feliz ano novo!

Imperdível bar Al Fin y Al Cabo, brinde na ceia do La Perla, fogos e fogueira pra espantar o frio no Reveillon.

Já no dia 1o de janeiro: ressaca geral.  As ondas invadiram a varanda do hotel, o tempo estava feio, chuvisquento, frio e ventava horrores. Tava tipo gorro, luva e cachecol quando sua mala só tem vestido, biquíni e havaianas. Nesse cenário desanimador, a pedida foi colocar a leitura em dia. Li um conto na Piauí, chamado A Onda.  Excelente, mas um tanto paranóico de se ler quando as ondas estão praticamente invadindo o seu quarto!

Bom, era hora de pular da cama, perseguir os pingos de gota quente no chuveiro, sobrepor todas as roupas e caçar programa. Com uma temperatura de 12 graus (!), resolvemos sair pra jantar. À noite, é bem bonito. Tochas e velas iluminam os caminhos do povoado. Felizmente encontramos um restaurante com uma aconchegante lareira.  Comemos nababescamente peixe, purê de batata, legumes, pãezinhos, patês, tudo acompanhado por necessárias tacinhas de vinho. Foi uma noite boa, embora eu sentisse ter embarcado para os Alpes Suíços com uma mala de quem vai pra Caraíva. Exagero? Talvez. Mas como boa brasuca, verão e calor são palavras interligadas no meu imaginário.

No dia seguinte, durante o café da manhã, avistamos 1 (um) raio de sol. Catarse!  Eu e as meninas ficamos hiperativas. Caminhamos até as dunas, depois até o farol , símbolo de Cabo Polônio, para ver de perto centenas de leões marinhos nas rochas. Tiramos fotos. Mais dois raios de sol e  já nos espreguiçávamos na praia, apesar do vento gelado ainda estar lá. Ainda bebericamos e petiscamos empanadas a tarde inteira na área externa do Lo de Dani. Enfim, havíamos recuperado o clima de verão em nossos corações rs…

Rolê pela Playa Norte no dia 2

Rolê pela Playa Norte.

Visita ao farol

Visita ao farol.

Colônia de leões marinhos

CLARO QUE a empolgação e o ventinho constante fizeram com que eu ignorasse o filtro solar. Um erro. No fim do dia, parecia que eu tinha esfregado pimenta na cara – sensação amenizada quando um salva-vida, que se tornou nosso amigo, me deu uns pedaços de aloe vera pra passar na pele #anotaessadica.

Pôr do Sol Cabo Polônio

No último dia…

Pôr do sol de despedida no ultimo dia... Já pensando em voltar

…pôr-do-sol de despedida… Já pensando em voltar!

Mas o que eu não queria deixar de dizer, no final das contas, é que Cabo Polônio é mesmo um lugar diferente. Se eu pudesse acrescentar um adjetivo à lista, seria “místico”. {mís.ti.co1 : Que se relaciona com o espírito, e não com a matéria. Um lugar dado à vida contemplativa e espiritual – me confirma o Dicionário Michaelis}.

Alinhando as expectativas térmicas e levando uma mala versátil, pode facilmente ser um dos melhores verões da sua vida. É um lugar despretensioso, ainda preservado, onde come-se e bebe-se bem e tem um clima muito receptivo, leve e gostoso que atrai uma porção de gente bacana. O cantor Jorge Drexler e a banda argentina Onda Vaga são fãs e já fizeram homenagens ao local, que eu mostro aqui embaixo. E você, se já foi, qual adjetivo daria a Cabo Polônio? Se não foi, é o tipo de lugar que você iria? Adoraria ouvir de vocês.

UPDATE: Pra quem quiser visitar Cabo Polônio sem abrir mão de conforto e algumas facilidades, sugiro ficar hospedado em La Pedrera, que fica a 36km a serem percorridos de carro ou ônibus de linha em uma ótima estrada.

Praia de La Pedrera

Praia de La Pedrera

Arbustos de hortênsias na porta - um detalhe charmoso nas casas de La Pedrera.

Hortênsias multicoloridas – um detalhe charmoso nas casas de La Pedrera.

Além de hotéis com mais infra, La Pedrera tem restaurantes bacanas, mercados bem abastecidos e a sorveteria Popi, um hit do litoral uruguaio. Mais infos aqui.

Importante: Tanto Cabo quanto La Pedrera tem sua temporada entre novembro e abril, sendo a alta temporada entre o final do ano e o Carnaval. Fora desse período, muitos hotéis e restaurantes fecham e essas cidades ficam praticamente vazias.

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