Puno e as imperdíveis ilhas flutuantes do Lago Titicaca
Nessa semana, postei um texto sobre Copacabana, Ilha do Sol e a parte boliviana do lago Titicaca. Quem leu, sabe o quanto gostei da tonalidade vibrante das suas águas, além das belas trilhas e ruínas incas.
Hoje, sigo escrevendo sobre o maior lago navegável do mundo. Porém, dessa vez é o lado peruano do Titicaca que está em pauta. Para acessá-lo, o viajante precisa ir à Puno, localizada a 3h30 de ônibus de Copacabana, 5h de La Paz, 7h de Cusco ou 5h de Arequipa, para citar algumas das cidades mais próximas.
Chegando lá, existem dezenas de agências, especialmente na Rua Jr. Lima, que oferecem o passeio às ilhas Uros (1/2 dia), Uros-Taquile (1 dia) ou Uros-Amantani-Taquile (2 dias). Eu fechei Uros-Taquile por 35 soles com um representante da Lago Tours, que oportunamente estava dentro do ônibus que peguei em Copacabana.
Sobre Puno
Com o tour comprado, dei uma rápida volta no centro, passando pela Catedral e pelo mercado, que sempre gosto de visitar para ver de perto os alimentos e hábitos locais. Existem outros lugares recomendados que não tive tempo de ir, como a casa colonial Del Corregidor, que depois de restaurada virou centro cultural; o Museu Carlos Dreyer, que tem uma exposição de objetos de ouro, cerâmica e artesanatos precolombinos; e o Museu da Coca e dos Costumes, com uma vasta explicação sobre o uso ancestral da folha de coca na cultura andina.
Muitos dizem que a cidade é perigosa. Pessoalmente, circulei com tranqüilidade, tomando os mesmos cuidados de sempre. Além disso, com o serviço de cooperativas de taxi entre 1 e 3 soles não há porque ficar circulando a pé à noite, correndo o risco de se perder.
Ilhas flutuantes de Uros
O passeio começa cedo e às 08h00 meu barco saiu do porto de Puno. As primeiras ilhas flutuantes não demoraram a aparecer. De cara, fiquei impressionada com a vastidão do arquipélago.
Quando desembarcamos, logo constatei o respeito e fascínio que tenho por culturas ainda tão preservadas na sua essência. Custei a crer que tantas famílias viviam há séculos naquelas ilhas sem nunca terem migrado para Puno.
Rapidamente meu grupo foi recepcionado por um morador, que esclareceu que no próspero Titicaca não faltava caça nem pesca e que o turismo mantinha a economia da região. Ressaltou ainda que em Puno muitos deles fatalmente acabariam vivendo à margem daquela sociedade moderna, trabalhando em sub-empregos com baixíssima remuneração. Ele também nos explicou que as ilhas se mantém flutuantes a partir do constante entrelaçamento da totora, tipo de capim ultra resistente e multi funcional.
Após essa conversa, fomos convidados a conhecer por dentro as casas feitas da onipresente totora (que serve até como alimento!). Algumas mulheres aproveitaram para mostrar seus bordados e outros artesanatos. Em seguida, fomos presenteados com colares de boas-vindas e alguns turistas aproveitaram para navegar pelo lago nas canoas de (adivinha?) totora.
Para fechar a visita, o guia propôs que cada visitante mostrasse aos nativos uma música do seu país. Gosto de interagir, mas cantar (mal) em público sempre foi um bloqueio. Nesse momento, deu-se um sem gracismo generalizado. Foi aí que, inexplicavelmente, cantarolei “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz…” e fui presenteada com um sorriso enorme dos moradores. Percebi, naquele momento, o valor de se comunicar da forma mais honesta possível através de um gesto tão simples e transformador quanto a música, seja ela bem ou mal cantada.
Ilhas Taquile
Mais do que feliz pela experiência em Uros, segui junto ao grupo rumo à Taquile, uma ilha que não é flutuante, mas sem dúvida merece ser visitada. Essa viagem é um pouco mais longa e, até pela distância, o local tem raízes e costumes ainda mais preservados.
Assim que desembarcamos, encaramos uma subida pela ilha enquanto admirávamos ovelhas pastando nos seus terraços verdes. Quando chegamos no alto, nos unimos a um grupo de artesãos locais, composto majoritariamente por homens. São eles, aliás, os responsáveis pela tecelagem de algumas das peças mais lindas e raras da cultura indígena peruana.
As mulheres do grupo, cobertas por um lenço negro, também se aproximaram e mostraram um manto de cabelos feito de crochê no período do noivado, como símbolo de estima e proteção ao futuro marido.
A vista de cima daquela colina era para o imenso Titicaca. Foi nesse cenário que assistimos a um show de dança e musica típica de Taquile. Fui convidada para dançar no meio dos moradores da ilha e, depois de cantar em Uros, me vi novamente aceitando um convite inesperado sem pestanejar.
O almoço, super agradável, teve sopa de quinua de entrada e truta fresquinha acompanhada de arroz e batatas como prato principal. Seguimos o passeio contornando a ilha a pé e observando a rotina dos seus habitantes. As crianças saindo da escola, os agricultores arando a terra, cenas de um dia comum em Taquile.
O tour terminou com uma visita às ruínas de origem inca e tiwanaku (civilização anterior a inca). Do topo da ilha, avistava-se uma escada de pedras com mais de 500 degraus. O sol ainda alto iluminava o Titicaca. Desci lentamente o percurso para aproveitar cada instante de um dos passeios mais bacanas e emocionantes que fiz durante a viagem.